sexta-feira, 29 de junho de 2012

Religião : Aversão





Não acredito em coisa alguma que venha do nada. Tudo o que eu conheço que veio do nada resultou em catástrofe, como o Restart, o Padre Marcelo Rossi e o próprio Big Bang, que deu origem à nossa existência e todas as outras coisas desagradáveis que vieram junto com ela. Como o Restart e o Padre Marcelo Rossi.É uma questão estatística. Até a presente data, nada de bom ou útil me aconteceu do nada. Ao contrário, todos os eventos que se sucederam comigo, mesmo os que terminaram bem, sempre ocorreram de maneira a esgotar todas as possibilidades de vergonha alheia, humilhação e autopiedade. Não creio que possa contar uma única história sobre como algo muito incrível me aconteceu do nada e acabou muito bem.A escola, por exemplo, foi uma das experiências mais traumáticas e abomináveis da minha vida. Não que eu me ache assim tão especial. Tenho consciência de que esse é um período difícil para a maioria das pessoas. Mas quando passamos por uma situação adversa, nosso instinto de sobrevivência nos leva a assumir uma postura defensiva. Camaleões mudam de cor, insetos se fingem de mortos, alguns peixes até mudam de sexo - o que deve ter menos a ver com mecanismo de defesa do que com o fato de serem umas bichonas -, e tudo isso é feito com o único e imprescindível intuito de não ser notado.Só que fica difícil não ser notado quando você é uma criança esquelética, estranha, versão mini mãos de tesoura, usa roupas horrendas e seu cabelo parece que foi lambido pra um lado por um boi.  Minha mãe, preocupada que sempre foi com minha noção de pertencimento, decidiu me tirar com 10 anos do colégio católico da cidade de interior que eu morava – talvez pelas agressivas  investidas religiosas que o professor/padre me propunha, pelo fato de notar naquela época que eu já era gay-  e me matriculou em um colégio onde não se tinha aulas de religião,  minha mãe dizia que não queria que eu fosse educado dentro de um sistema de ensino religioso. Assim sendo, ela me pôs em uma escola adventista evitando me dispor a fazer qualquer coisa relacionada a esporte, ou qualquer coisa q me expusesse a humilhações. Poderia ter sido um colégio laico, mas não. E, para garantir que eu não receberia nenhum tipo de ensinamento bíblico, ela fez questão de que me retirassem da sala durante  aulas que se relacionasse  a religião. Porque não bastava que eu fosse uma anomalia grotesca  magricelo de cabelo lambido. Eu também precisava ser o Anticristo.
 Foi preciso algum tempo para que eu finalmente ''me encaixasse'' nos parâmetros estéticos da sociedade, o que só prova que nenhum evento bem sucedido na minha vida aconteceu do nada. Inclusive - e principalmente - na minha vida amorosa. As experiências anteriores me mostram que nada de muito interessante pode me ocorrer sem que, necessariamente, eu tenha que passar por todo aquele caminho tortuoso de vergonha alheia, humilhação e autopiedade - como foi minha passagem pela escola. Do nada, se sucederam as piores tragédias da História da Humanidade, incluindo a ascensão de Hitler, o Restart, os fãs do Restart, o padre Marcelo Rossi e, principalmente, minha vida amorosa. Do nada, eu só posso antecipar uma jornada frustrante de volta ao ponto inicial. Do nada, eu não espero mais coisa alguma. E é aí que reside a grande ironia. Porque quando não se espera nada, absolutamente nada, alguma coisa sempre acontece.