terça-feira, 22 de abril de 2014
Esquecido
Quem sou eu além daquele que fui?
Perdido entre florestas e sombras de ilusão
Guiado por pequenos passos invisíveis de amor
Jogado aos chutes pelo ódio do opressor
Salvo pelas mãos delicadas de anjos
Reerguido, mais forte, redimido,
Anjos salvei
Por justiça lutei
E o amor novamente busquei
Quem sou além daquele que quero ser?
Puro, sábio e de espírito em paz
Justo, mesmo que por um instante,
Forte, mesmo sem músculos,
E corajoso o suficiente para dizer “tenho medo”
Mas quem sou eu além daquele que aqui está?
Sou vários, menos este.
O que aqui estava, jamais está
E jamais estará
Sou eu o que fui e cada vez mais o que quero ser
Mudo, caio, ergo, sumo, apareço, bato, apanho, odeio, amo…
Mas no momento seguinte será diferente
Posso estar no caminho da perfeição
Cheio de imperfeições
Sou o que você vê…
Ou o que quero mostrar.
Mas se olhar por mais de um segundo,
Verá vários “eus”,
Eu o que fui, eu o que sou e eu o que serei.
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Perfeito
Eu queria ser perfeito
pra você, vestir a roupa que você gosta,
usar o perfume que te agrada, ser elegante, bonito.
Eu queria que você, cada vez que me olhasse, se apaixonasse mais por mim. Queria que você dissesse que me ama muito, que me elogiasse, comentasse que gosta do meu sorriso, meu cabelo, meu olhar, meu beijo, de mim. Eu queria ser a sua paz de espírito, queria ser a calma da sua alma, queria te fazer a pessoa mais feliz do mundo. Eu queria ser a pessoa mais linda e inteligente, pra você se orgulhar de mim, queria que você gostasse do que eu faço, queria ser do jeito que você
imaginou, queria realizar seus sonhos e todas as suas vontades.
Eu queria que você sentisse a minha falta, quisesse estar sempre comigo, do meu lado. Eu queria ser perfeito pra você.
usar o perfume que te agrada, ser elegante, bonito.
Eu queria que você, cada vez que me olhasse, se apaixonasse mais por mim. Queria que você dissesse que me ama muito, que me elogiasse, comentasse que gosta do meu sorriso, meu cabelo, meu olhar, meu beijo, de mim. Eu queria ser a sua paz de espírito, queria ser a calma da sua alma, queria te fazer a pessoa mais feliz do mundo. Eu queria ser a pessoa mais linda e inteligente, pra você se orgulhar de mim, queria que você gostasse do que eu faço, queria ser do jeito que você
imaginou, queria realizar seus sonhos e todas as suas vontades.
Eu queria que você sentisse a minha falta, quisesse estar sempre comigo, do meu lado. Eu queria ser perfeito pra você.
Mas sabe, não sou
perfeito, nem bonito, e cansei de tentar só SER pra você.
Um dia você cansa
Cansa da inconstância
Cansa de ser julgado
Cansa de ser ignorado
Um dia decide que prefere ser você mesmo e ter
Sua própria companhia a
Mendigar chances de mostrar
O que tem pra dar.
Cansa da inconstância
Cansa de ser julgado
Cansa de ser ignorado
Um dia decide que prefere ser você mesmo e ter
Sua própria companhia a
Mendigar chances de mostrar
O que tem pra dar.
Inconstância
Procurei o amor, que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!
Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...
Pedi à Vida mais do que ela dava;
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!
Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer...
Atrás do sol dum dia outro a aquecer
As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há-de partir também... nem eu sei quando...
Florbela Espanca
segunda-feira, 14 de abril de 2014
O Seco da Garganta
Parece
que tudo em relação a mim é sangue, culhão e loucura.
Sou eu morto pelo caminho. Sou eu não entendendo o que está
se passando em mim. É o nervosismo rasgado na barriga por uma baioneta e
depois estuprado no cú enquanto choro. Sou eu me torturando o tempo inteiro.
Eu quero vomitar tudo. A água, a saliva, a língua, o seco da
garganta, a amígdala, o apartamento de milhões de metros quadrados vazios que
virou o meu peito. Quero vomitar minha pele, meus olhos, meu fígado, meus
horários, minhas listas de vontades. Eu quero tudo fora, tudo fora. Eu quero eu
fora. Eu quero ir pra fora de onde está tão devastado e de onde eu tinha
pintado tudo de azul pra te ver sentado bem no centro. No centro do meu peito, alguém,
com a luz azul da minha esperança.
Safena
Sabe
o que é um coração
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
amar ao máximo de seu sangue?
Bater até o auge de seu baticum?
Não, você não sabe de jeito nenhum.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.
Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões
Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate
O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.
Agora chega.
Reforma no meu peito!
Pedreiros, pintores, raspadores de mágoas
aproximem-se!
Rolos, rolas, tinta, tijolo
comecem a obra!
Por favor, mestre de Horas
Tempo, meu fiel carpinteiro
comece você primeiro passando verniz nos móveis
e vamos tudo de novo do novo começo.
Iansã, Oxum, Afrodite, Vênus e Nossa Senhora
apertem os cintos
Adeus ao sinto muito do meu jeito
Pitos ventres pernas
aticem as velas
que lá vou de novo na solteirice
exposta ao mar da mulatice
à honra das novas uniões
Vassouras, rodos, águas, flanelas e cercas
Protejam as beiras
lustrem as superfícies
aspirem os tapetes
Vai começar o banquete
de amar de novo
Gatos, heróis, artistas, príncipes e foliões
Façam todos suas inscrições.
Sim. Vestirei vermelho carmim escarlate
O homem que hoje me amar
Encontrará outro lá dentro.
Pois que o mate.
Elisa Lucinda
Eu, Postiço
'É que por enquanto a metamorfose de mim em mim mesmo não faz sentido. É uma metamorfose em que eu perco tudo o que tinha, e o que sou. E agora o que sou? Sou: estar de pé diante de um susto. Sou: o que vi. Não entendo e tenho medo de entender, o material do mundo me assusta, com seus planetas e baratas.''
Clarice Lispector
Clarice Lispector
Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Sujo e Só
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