domingo, 30 de setembro de 2012

Só o gosto salgado na boca e a sensação da lágrima seca no rosto.

Passa

É só uma fase e vai passar.
Vai passar rápido como este dia que já terminou, vai passar fácil como acabou de passar aquele jovem com ar saudoso, aquela criança correndo, ou como passou pela vida aquele velho que agora dá o último suspiro.
- Um copo a mais, um a menos, não faz diferença, porque vai passar. Outro cigarro! Outro café! Outra fé, por favor!
Vai passar.
Não importa quantas noites ainda persista, quantos planos estrague, quanta desorientação provoque. Quando mais nada estiver no lugar, vai passar. E para que relutar? Neste mundo doido a mudança é inexorável mesmo.
Vai doer, mas vai passar.
Chances vão se esgotar, sonhos vão se frustrar, quem sabe até você chore, implore ou ignore todo o resto se atendo à idéia de que vai passar.
Convencido! Quase forte, não fosse a derrocada interior.
- Mais um livro, outro filme. Quero ficar aqui. La fora estão todos aqueles para quem já passou. Meus heróis, todos. E eu? Menino acuado, ainda acordado, há três dias talvez. Eu, garoto sem fome, sem cor e sem dono, perdido outra vez.
Mas vai passar.
É preciso acreditar que vai passar.

Cansou

 Estou cansado de falatório, filtro solar, suco natural, suplemento de cálcio e etc e tal.
Eu cansei de todo mundo que prega falsa moral!
Cansei de correr, de falar, de reprovar, de calar, de tomar tenência, juízo, tequila e cuidado.
Eu cansei dos que sabem tudo!
Cansei de tititi, blábláblá, mimimi... quanto custa? quanto eu quero? quanto eu posso? quanto eu tenho? Quanto! Quanto! Quanto! Boca cheia.
Eu cansei dessa gente vazia.
Cansei do tênis de marca, do cabelo curto, do estilo, da moda, da tendência, da prudência, do pode e não pode.
Escapo antes do bote!
Cansei de palhaçada, de circo, de teatro, de cena, de novela mexicana, da trama, do drama, da péssima atuação e da pura atuação.
Eu cansei de quem é só pela ambição.
Cansei de dar desconto, eu dou o tapa e não me escondo!

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Vintage


Dia desses eu estava conversando com uns amigos sobre a última vez em que qualquer um de nós tinha visto uma fotografia impressa. Ninguém se lembrava ao certo, mas a conclusão foi unânime: fazia muito tempo.
Para mim, as fotos digitais são como os relacionamentos afetivos de hoje em dia. Prezam pela quantidade. Uma coleção enorme de momentos quase sempre bastante superficiais e transitórios.
Já não impõe mais respeito, nenhum dos dois. Você tira quantas fotos quiser, não precisa mais se preocupar com o limite. E, por isso mesmo, não é comum ver alguém pensando muito antes de sair por aí clicando. Ou ficando com pessoas.
Com tanta liberdade, em ambas as experiências, acaba sendo difícil a tarefa de selecionar os bons resultados - que, vão me desculpar, são raríssimos.
Na minha opinião, a única forma da fotografia realmente existir é quando está gravada na superfície de um papel. Antes disso ela é só um arquivo dentro de uma pasta no drive C. Não é de verdade. Não rasga, não amassa, não mancha. Não fica marcada pelo plástico do álbum, pelo vidro do porta-retrato, pelo calor, pela umidade. Não é nada além de uma porção de dígitos armazenados em uma máquina.
Quero fotos dos anos setenta. Quero lembranças de uma época em que cada foto importava. E que as pessoas nas fotos importavam mais ainda.
Quero fotos daquelas bem avermelhadas, desbotadas, gastas. Fotos de viagens incríveis. Fotos de estrada. Fotos que só têm graça para quem esteve lá. Quero olhar para elas daqui a trinta, quarenta anos e lembrar que naquele momento eu fui feliz. Com alguém.
Não faço mais questão de ter centenas de fotos aleatórias espalhadas pela pasta "Minhas Imagens". Quero as que durem, mesmo que apagadas pelo tempo. Prefiro essas aos arquivos esquecidos no HD do computador.
Quero fotos que tenham significado. Fotos de valor inestimável, a prova de vírus e cavalos de tróia. Fotos que, infelizmente, já não fazem parte da cultura da minha geração.
Mas eu pouco me importo. Não quero saber da insustentável leveza dos arquivos e das experiências zipadas. Gosto mesmo é de um bom vintage.
'Sinto falta daquela época em que eu saía toda noite com os meus amigos, a gente ficava dançando até umas seis da manhã, eu pegava vários caras gatinhos...', recordava, saudoso, diante do espelho do banheiro. 
'E nessa época você era feliz?", - O subconciente perguntou.
"Não, claro que não. Mas pelo menos eu não era o único!", rebati. "Agora todos eles estão namorando e passam o final de semana com os seus respectivos. Tenho saudade dos tempos em que éramos todos infelizes."

Ando meio sem paciência pra gente chata. E quando isso acontece, eu tendo a ficar excessivamente sarcástico. Foi por isso que, no auge de uma discussão sobre Criança Esperança e solidariedade, eu soltei, sem pensar duas vezes: "Dane-se o próximo. Se ele fosse realmente próximo, eu saberia o nome dele"- declaração que só não causou mais polêmica e revolta do que a vez em que eu disse para outro grupo de chatos o que eu pensava sobre a Shitney Spears. Quer dizer, Britney.

O impossível pode estar em uma nuvem, em uma laje, em um sobrado ou em um subsolo. Pode estar em um olhar meigo ou em um grito repleto de ira. O impossível não precisa ser linear, não precisa ser preto ou branco. Tem tons, fragmentos que compõem uma paisagem nem sempre nítida. Uma projeção de slides muitas vezes desfocadas.

Que ótimo dia para um exorcismo!


O mundo não é composto só de realidade. Ninguém anda nas ruas pensando apenas no concretismo do dia a dia . Não há como não voar para lugares onde só a mente pode nos levar. Nossa vida não pode ser pautada somente pelo que existe, precisa ser levada pelos sonhos.
Mais importante que sonhar é nunca abandonar esses sonhos. São os sonhos abandonados que produzem nossos monstros e que nos fazem tomar atitudes que jamais imaginaríamos. São esses monstros que nos fazem perder a razão, o respeito e dar vazão a mágoas que nem deveriam ser cultivadas.
Monstros existem e estão dentro de nós. Essa é outra daquelas afirmações da qual não há como discordar. Precisamos é aprender a domá-los, controlá-los. Por mais que esses monstros, demônios e íncobus nos levem a um exorcismo diário ou uma desagradável esquizofrenia.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Uma criança de quatro anos é fofinha. Comove, alegra, emociona, e tudo isso apenas existindo. Ela não precisa fazer nada para gostarem dela. Pessoas adultas não são assim. Todas as pessoas humanas* já foram crianças, mas muito poucas delas conservaram a fofura. Quem é adulto, precisa fazer um esforço intenso para ser gostável e ser considerada fofinha ao menos para algumas pessoas. Eu fui fofinho. Tenho uma daquelas fotos clássicas em que estou dormindo sobre uma bela colcha, usando um tip-top lindo. Daquelas fotos que você olha e diz “aaahhhhh”. Hoje, porém, muita gente que me olha diz “que mané mais antipático!”. Não tenho dúvidas: perdi a fofura. Agora tento reencontrá-la nos outros. Já imaginou conseguir olhar para aquele babaca mais antipático que você conhece e imaginá-lo como uma criança? Imaginar que toda a sua fragilidade e doçura foi talhada de tal forma que ele acabou tornando-se um limão? Difícil. Não conseguimos perceber muito mais do que a curta fronteira de nossa embaçada e fantasiosa visão alcança. Julgamos, condenamos e aplicamos uma severa pena de reclusão de nossas vidas, relegando dezenas de pessoas interessantes à nossa tão sublime e perfeita existência. Sim, nós nos consideramos defeiuosos, e a maioria tem dificuldades em encontrar qualidades em si mesmos. Mas quando se trata de julgar o outro, aí sim podemos ser melhores, pois teremos menos defeitos. Será? Estou tentando descobrir a criança que há nos outros. E assim, quem sabe, eu encontre a minha criança particular; se é que não é ela que está escrevendo este texto agora...

* Pessoas humanas? Fala sério...
  Não viverei o suficiente. Não! Não tenho medo da morte, e já disse isso por aqui. Mas tenho certeza de que não viverei o bastante.
A vida é urgente, e sei que muitas veses não tenho tempo para ela. Sim, o erro foi de propósito, assim como muitos erros que cometo. Pura teimosia. Assim como insisto em não ouvir a vida, e sigo passando os dias. Mas não é somente por isso que sinto que minha vida será curta. Minha vida será curta porque há tantas coisas a ler e a saber. Há tanto a amar...
Gosto das estórias de vampiros (exceto Crepúsculo, afff! Até 'Anjos da Noite' é melhor!). Ter a eternidade para ser triste e feliz, ler, ouvir e sentir tudo o que se possa ter, pensar e sonhar em muitas vidas. É um sonho atraente. Dar a devida importância ao fugaz. Ou será que nada seria fugaz? Ou será que nada é?
Mas a vida é tão grande e viva que não há como ter certeza de nada, à exceção da morte. Morte fugaz. Morte imbecil e tola! Que vem sem ser convidada e não vem quando é chamada. Estúpida! Vá ceifar a quem te busca e deixe os outros em paz! Só porque estás a espreita é impossível viver como gostaríamos ou poderíamos...
Mas, sinto em informar, não há tempo! Portanto, sejamos loucos, e tornemos este mundo um lugar mais interessante. Ao menos para alguém...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

 
Sentimentos não são errados, muito menos adequados. Não os controlamos. A única coisa que sabemos fazer com nossos sentimentos é senti-los. Tem dias que até penso que eles são inúteis. Mas, embora alguns possam parecer errados, eles não o são. Sabe aquela vontade que você tem de matar o chefe? Isso não é errado! O querer, o desejar, o sentir... nada há de errado nisso. O que pode ser errado é aquilo que fazemos com nossos sentimentos (não vai matar ele, ok?).
Nutrir certos sentimentos, porém, já é outra história. Há sentimentos que se alimentados podem ser potencialmente danosos, podendo nos levar a cometer bobagens sem tamanho. Quem quiser alimentar sentimentos hostis, poderá estar criando monstros (e quem já não teve (ou tem ¬¬) algum de estimação?). Acho que não há muita receita para isso, por isso procuro ser racional nas minhas atitudes, em detrimento de algumas emoções. Isso porque a razão tende a ser menos danosas ao meio ambiente do que os sentimentos ou as emoções.
Se você pensa diferente, ótimo para você! Se quiser deixar sua receita de como lidar com osmonstrinhos sentimentos, comente abaixo! Afinal, cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração, e a cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.

 Ter e não possuir. Tão quente, porém tão frio. Meu coração está em sua mão, no entanto, você nunca está próximo o bastante para eu fazer o que quiser.
Amar, mas não manter. Rir, não chorar. Seus olhos, eles atravessam, no entanto,você nunca
faz nada para eu querer ficar. Olhar, mas não ver. Beijar, mas nunca ser o objeto de seu desejo. Estou andando na corda bamba e não há mais ninguém que amorteça a minha queda. Como uma mariposa para a chama,sou o único culpado. O que posso fazer? Vou direto a você. Me disseram que você é para se ter e não possuir.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012







































Você não me deixaria dizer as palavras que eu queria dizer, você não quis ver a vida através dos meus olhos, você tentou me empurrar para dentro de uma sala apertada e me calar com rancor e mentiras. E eu não me arrependo. É a natureza humana. E eu não me arrependo. Não sou sua puta, não jogue sua merda em mim.

domingo, 9 de setembro de 2012


Busquei-me. Debati-me por entre espelhos dos mais variados tamanhos e formas, desde engraçados até os mais horríveis e perturbadores, mas não me encontrei. Parece que me via de relance, com o canto do olho, de vez em quando.
Perguntei ao mundo sobre mim. Saí a campo, e a cada transeunte que passava, me colocava a explicar as características daquele eu que eu tanto buscava. Depois de dar as instruções de como era o eu perdido, as pessoas olhavam-me com aquele ar de ‘não vi e não conheço’, num espremer de bocas e balançar de cabeças extremamente desolador.
Até agora, só pude pensar em duas hipóteses para o meu sumiço: ou eu nunca me vi, ou osoutros nunca me viram; se é que eu existo mesmo...





Não contente em estar morto em vida, se auto suicidou, matando-se a si mesmo.
E desde que a morte morreu, sua vida nunca mais foi a mesma.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Renata Fagundes





Que o azedume de certos dias não tenha o poder de contaminar nossa doçura, e que a nossa própria doçura seja superior e maior do que qualquer outra força que queira nos amargar. Mesmo que seja difícil as vezes, ainda é melhor tentar ser feliz.




Hoje de manha quando minha madrinha veio visitar minha bisavó que está hospedada em casa reencontrei com minha priminha de 7 anos filha dela e a perguntei :

- Ana, o que vc quer ser quando crescer? 

Ela, erguendo os dois bracinhos como quem quer sair voando responde sorrindo:
- Eu vou ser uma Suuuuuuuper Heroína, plimo!!!

A verdade, meu anjo, é que tu já é uma super heroína!
A única Super Heroína no meio de tanta humanidade impotente.




“E que você sinta vontade de precisar de mim. Mas não só quando houver necessidade, que você sinta isso mesmo tendo passado um dia inteiro comigo, que não veja e nem sinta as horas passando quando estiver ao meu lado, e que nunca seja o suficiente o tempo que passarmos juntos, que você sempre sinta vontade de mais, mais e mais.”

Não sendo exatamente assim, não tem pq seguir em frente.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012



"...Da minha parte, sinto que há opções a fazer e que a gente as faz todos os dias, em favor do abraço de conchinha. Passada a turbulenta adolescência, tendemos a construir relações estáveis. Nelas, os abraços cheios de sono e intimidade são mais frequentes que os beijos apaixonados. Há uma troca que parece refletir as nossas necessidades profundas. Deixamos de lado a paixão incandescente pelo afeto profundo. Trocamos tesão por amor. Claro, essa não é uma solução inteiramente satisfatória. Nem definitiva. Mas parece ser aquela que de forma mais frequente atende a nossa insondável, dolorosa e contraditória humanidade – a mesma que nos acorda no meio da noite, inquietos, e nos faz procurar, no escuro, o calor e o conforto do corpo do outro."
(Ivan Martins)

Be Cool : Uncool



Não há uma regra para definir o que é cool. A gente sabe quando vê. Da mesma maneira que não se ensina como ser cool. Ou é, ou não é. E também é muito ridículo ficar tentando ser cool. É como usar uma roupa bem cortada, de caimento perfeito, mas que não tem nada a ver com biotipo da pessoa. Parece farsa. E farsa é totalmente uncool
Essa é uma preocupação que esquenta principalmente a cabeça de adolescentes e jovens adultos. O pessoal mais velho não se amofina muito com isso. Será que é porque perceberam que não vale a pena? O fato é que, quanto mais velhos ficamos, mais tolerantes nos tornamos com as coisas uncools da vida, mas que dão muito prazer. Tipo comer churros de doce de leite. É totalmente uncool, mas é divino. 
É importante destacar nesse pensamento que, não que eu seja uma exceção exclusiva e queira ser melhor do que esses idiotas falsificados. 
Eu simplesmente gosto de estar fora dessa moda que distorce o verdadeiro sentido das coisas que realmente importam - como trabalhar nossa própria personalidade de uma forma original, para que cheguemos a uma vida adulta onde não teríamos a oportunidade de termos conflitos internos e sejamos seguros do que realmente somos. Mas no final, a gente percebe que isso são só fases de adolescência, e como eles são ridículos.
    

terça-feira, 4 de setembro de 2012


Minha vida não girava em função disso, mas de vez em quando passava pela minha cabeça, a um tempo atrás, no táxi a caminho de uma festa ou descendo a escada rolante do metrô: será que hoje eu vou conhecer alguém?
Eu sempre duvidava muito. Essas coisas não acontecem, pensava, enquanto rastreava cuidadosamente o perímetro à procura de alguém em potencial.No fundo eu sei que ele não está ali; seria óbvio demais. Mas também não consigo deixar de procurar. É como se, fazendo isso, eu estivesse me isentando da responsabilidade. Tipo, fiz a minha parte, colega. Procurei pra caramba e você nem estava lá.Só que esse hábito foi se desenvolvendo e acabou virando um tipo de transtorno obsessivo compulsivo. E toda vez que eu pensava no assunto, toda vez que eu lembrava que podia conhecer alguém hoje, eu entrava em pânico. Porque percebia que não fazia a menor ideia de quem seria essa pessoa. Qualquer um poderia ser alguém. Era preciso ficar atento; e - meu deus - como isso é exaustivo.A impressão que eu tinha é que basta um movimento errado, um segundo de distração, para que eu deixe algo passar. Vai ver que era por isso que eu não conseguia dormir à noite. Talvez eu tinha medo de fechar os olhos e perder alguma coisa importante.Mas era impossível controlar tudo, não tem como. E é bem provável que eu não encontrasse alguém naquele dia. Talvez eu não encontrasse alguém nunca.De repente, eu que seria encontrado. E em vez de me preocupar tanto em olhar em volta, eu deveria aprender a fechar os olhos e, pelo menos uma vez, deixar que me procurem.


Se alguém fosse esperto, iria me achar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012


Não sei o que acontece comigo, mas quando sou colocado (ou me sinto) em uma situação de teste - como primeiros encontros e entrevistas de emprego -, tendo a desenvolver uma espécie de amnésia seletiva que desencadeia uma terrível falta de habilidade de me expressar.
Uma vez estava em uma entrevista de emprego importante e me perguntaram se eu gostava de ler. Eu disse que sim, claro, óbvio, como não? A mulher sentada à minha fente não pareceu se impressionar com a minha resposta, e sorriu como quem pensa "até parece que você diria outra coisa." Depois perguntou qual fora o último livro que eu tinha lido.Engoli no seco.Não é que eu não leia livros. Eu leio livros. Vários livros.Mas naquele momento, era como se uma câmera se aproximasse rapidamente até o meu rosto e eu pensasse "ai meu deus, eu nunca li nenhum livro na minha vida."E comecei a me desesperar, dando um google no meu cérebro, percorrendo todos os cantos obscuros da memória até chegar a um título, o único que brilhava em neon no meio da minha massa cinzenta."Moby Dick", respondi, enfim.O que seria ótimo, não fosse pelo fato de eu nunca ter lido Moby Dick."Ah, é maravilhoso", ela respondeu, agora sim abrindo aquele sorrisão, impressionada com a magnificência do meu intelecto."É um clássico, né", afirmei, seguro daquela verdade inquestionável."É uma história linda", ela continuou.Ok, vamos lá. Google mental: Moby Dick. Eu sei que Moby Dick é o nome de uma baleia. Uma baleia branca, o que torna "Free Willy" praticamente uma resposta das minorias oprimidas. Mas, enfim, isso não vem ao caso agora. Eu lembro de um pirata, um marujo, um lobo do mar; e ele tenta caçar Moby Dick. Ele tenta caçar Moby Dick até o fim da sua vida. É isso!"Ele tenta caçar Moby Dick até o fim da sua vida", eu disse, emocionado.E tudo acabaria aí, não fosse pela minha petulância."Todos nós temos as nossas baleias brancas pra caçar, não é mesmo?", insisti, testemunhando o sorriso da mulher se transformar em algo nebuloso. Foi só então que me dei conta de que ela era bem gorda. E branca."Quer dizer, é uma metáfora", tentei, em vão, consertar, ao que ela riscava algo em sua agenda. "Você riscou meu nome?""Não", ela respondeu, expressiva como uma parede. Uma grande parede. Branca.Mas poderia ter sido pior. Eu poderia ter dito qualquer um do Paulo Coelho.

"Então o senhor vira na próxima direita e sobe até morrer", disse ao taxista, esquecendo que ele era um velhinho. "Quer dizer, o senhor sobe até o fim",merda, "o fim da rua, o fim da rua!", repetia, nervoso.
A minha sorte é que ele era meio surdo."Agora o senhor faz a volta que a rua não tem saída", avisei."É, meu filho", ele dizia, reflexivo, "o fim da rua chega pra todos."Então eu me fingi de surdo e fui embora, sem esperar o troco.