segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

FIQUE FRIO

A decepção te torna uma pessoa fria, desconfiado. E pode apostar, dói não saber em quem confiar, mas doí mais ainda perceber a incapacidade de amar.
Fiquei horas pensando no que escrever, mas o que eu deveria escrever já estava em mente ou em minha vida. Não sei, por tudo que passei, pelas contas que contei, só consegui ver a mim e não vejo mais ninguém. Sou frio, congelado, o gótico demasiado. Sei bem como não se envolver, como não sofrer como não sentir dor. Como ignorar e bloquear os sentimentos. Com o tempo, pelo costume, você acaba fazendo por automático. 
Fiz de brincadeira, a vida transformou o amor em poeira e hoje me vejo assim. O assassino de mim.
Mas não é por maldade, a frieza muitas vezes não está ligada a caráter, a frieza me ensinou a viver. Não tive anjos a minha volta, uma família pra me guiar, amigos pra aconselhar.
A vida só me deu armas pra lutar !



segunda-feira, 19 de outubro de 2015

MORTA PRA MIM

Minhas condolências. 
Vou derramar uma lágrima com a sua família, depois vou abrir uma garrafa e despejar um pouco em sua memória. Vou estar no velório vestido todo de preto. Vou chamar o seu nome, mas você não vai responder. Vou entregar uma flor para sua mãe quando eu disser adeus, porque, você está morta para mim. Essa é a única maneira de tirar você da minha cabeça. Eu preciso te matar para silenciar todos as pequenas coisas encantadoras que você disse. Eu realmente quero te matar, limpar você da face da minha terra e enterrar seu rosto, enterrar sua alma e seus pés abaixo da terra. 
Eu costumava dizer sinto muito, por todas as merdas estúpidas que você fez, então agora eu realmente sinto muito.
Dias chuvosos e guarda-chuvas pretos, quem vai te salvar agora? Você consegue enganar do subsolo?

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

PARTICULARIZAÇÕES

Um abismo maior que duzentos Maracanãs vazios interpõe-se entre as coisas que o mundo demanda de mim e aquilo que eu realmente espero dele. Pular nesse imenso vazio poderia ser o fim de tudo ou o começo de um voo nada absurdo rumo à libertação. Quem poderá dize-lo? Não tenho garantia nenhuma. Aliás, sequer asas possuo. Que pena.
Eu precisava comprar um carro, insiste a mídia. Mas prefiro uma nave, uma bolha para escapar flutuando do planeta, na companhia de uma tripulação restrita e escolhida a dedo. Eu precisava ganhar uns dez quilos. Muitos precisavam perder vinte quilos. Nesse perde e ganha de banhas e aparências, são raros os que se tocam que o peso de viver nesse mundo-de-nem-deus jamais será mensurado em gramas. Não arrear com tamanha carga emocional: eis um desafio para burros e espertos. Eu precisava subir na vida. No duro: na maior parte do tempo, eu penso em pegar descendo, sumir do mapa, tornar-me um eremita e fazer visitas esporádicas ao shopping-center durante aqueles surtos de solidão incontrolável, se é que me entendem. Pode parecer paradoxal, mas, às vezes, é mais seguro topar com gente do que com os fantasmas da mente.
Tá nos folders e nas revistas: eu precisava viajar pelo mundo. Mas confesso que sou viciado em viajar na maionese. O duro é que meus pensamentos quase sempre me conduzem até onde o vento faz a curva, a ponto de muitos julgarem que eu perdi o juízo lá onde Judas perdeu as botas, e que estou me tornando uma companhia bastante desagradável.
Na verdade, eu preciso de quase nada nesse mundo. Porque, quanto mais eu envelheço, mais sinto fome de mim.
 EBERTH VÊNCIO

terça-feira, 30 de junho de 2015

Onde se conhece alguém?

Em primeiro lugar, gostaria de deixar bem claro que eu não faço a menor ideia. Não sei o que se passa com as pessoas interessantes dessa cidade. Ao que parece, elas se escondem em algum porão secreto e, quando aparecem, já estão casados ou namorando. Ou então, o porão era uma espécie de aplicativo e eles estão lá sarados e padronizados.Um amigo meu, que eu considero legal e descolado, disse que conheceu o namorado dele num samba. Concluí que eu também poderia perfeitamente conhecer alguém interessante num samba. Exceto por um detalhe. Eu não sei sambar. Talvez flertando num bar. Só não sei que bar. Aqui em Brasília, só conheço bares com mesas para grupos de amigos ou casaizinhos. Ou grupos de amigos compostos por casaizinhos. E eu geralmente estou nessas mesas, como representante do número ímpar. De todo modo, é impossível flertar nesse tipo de bar. Primeiro porque eu não sei flertar. Quando eu fixo o olhar em qualquer coisa por mais de cinco segundos, meus olhos começam a arder e a lacrimejar. Dali a pouco o cara vai achar que eu estou chorando porque estou deprimido. Também não sei ser sedutor/sensual. Um outro amigo, que eu também considero legal e descolado, disse que conheceu o marido dele em uma boate. Aliás, falando nisso, qual é o termo atual para “boate”? Acho “boate” muito anos 60. E discoteca é super anos 70. Afinal, qual o nome que se dá àquele lugar insalubre e lotado onde uma porção de gente desinteressante se reúne para beber e dançar ao som músicas desagradavelmente altas? Um terceiro amigo, também muito legal e descolado, disse que o termo para isso é “night”. Tenho certeza absoluta de que se for pra conhecer alguém interessante não será nem num samba, nem num bar, nem na “night”.
Nossos amigos legais, descolados e solteiros têm sempre alguém ótimo para nos apresentar. E eu sempre penso que se a pessoa fosse assim tão ótima, os amigos iriam querer pra eles. Já os legais, descolados e comprometidos entram numa de nos apresentar os amigos dos namorados deles. Outra roubada. Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que amigo de namorado de amigo NUNCA é interessante. Eles são sempre meio carecas, convencionais e cheios de opiniões irritantes sobre vários assuntos. Quando aparece um mais bacaninha, pode ter certeza de que é comprometido. Talvez as pessoas interessantes estejam no cinema. Ou numa exposição de um artista plástico incrível que eu não vou saber o nome porque não sou culto o bastante. Talvez essas criaturas estejam do seu lado e você não perceba. Ok, isso é totalmente mentira. Eu olho para os lados O TEMPO TODO e não vejo nada. Ainda não descobri qual é o tal porão secreto onde as pessoas interessantes e solteiras de Brasília se escondem. Se alguém ficar sabendo, por favor, me conte. Até lá, triste admitir, poderei ser visto circulando pela cidade, provavelmente em sambas, bares e “nights”. Talvez até saindo com amigos de namorados de amigos. E sempre, sempre olhando para os lados.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Meu Cupido Usa Arma

Minha vida não girava em função disso, mas de vez em quando passava pela minha cabeça, a um tempo atrás, no táxi a caminho de uma festa ou descendo a escada rolante do Shopping: será que hoje eu vou conhecer alguém?
Eu sempre duvidava muito. Essas coisas não acontecem, pensava, enquanto rastreava cuidadosamente o perímetro à procura de alguém em potencial.No fundo eu sei que ele não está ali; seria óbvio demais. Mas também não consigo deixar de procurar. É como se, fazendo isso, eu estivesse me isentando da responsabilidade. Tipo, fiz a minha parte, colega. Procurei pra caramba e você nem estava lá. Só que esse hábito foi se desenvolvendo e acabou virando um tipo de transtorno obsessivo compulsivo. E toda vez que eu pensava no assunto, toda vez que eu lembrava que podia conhecer alguém hoje, eu entrava em pânico. Porque percebia que não fazia a menor ideia de quem seria essa pessoa. Qualquer um poderia ser alguém. Era preciso ficar atento; e - meu deus - como isso é exaustivo . A impressão que eu tinha é que basta um movimento errado, um segundo de distração, para que eu deixe algo passar. Vai ver que era por isso que eu não conseguia dormir à noite. Talvez eu tinha medo de fechar os olhos e perder alguma coisa importante. Mas era impossível controlar tudo, não tem como. E é bem provável que eu não encontrasse alguém naquele dia. Talvez eu não encontrasse alguém nunca. De repente, eu que seria encontrado. E em vez de me preocupar tanto em olhar em volta, eu deveria aprender a fechar os olhos e, pelo menos uma vez, deixar que me procurem.Se alguém fosse esperto, iria me achar.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

PERSONA NON GRATA


A todos trato muito bem
Sou cordial, educado, quase sensato,
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
Expulso do paraíso
um homem sem juízo, que não se comove
com nada
Cruel e refinado
Que não merece ir pro céu, um vilão de novela
mas belo, e até mesmo culto
Estranho, com tantos amigos
E amado, bem vestido e respeitado
Aqui entre nós ...
Melhor que ser bonzinho e não poder ser imitado.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Amigo Hétero

Estava conversando com um amigo novo. Não que eu acredite em novas amizades, muito menos em amizades entre homens heteros ''tradicionais''. Mas eu estava conversando. Com um cara. A questão é que ele possui algumas semelhanças assustadoras comigo - especialmente no que concerne às inseguranças e paranoias.  Não que eu me importe em ouvir as lamúrias alheias. Na verdade, eu adoro. Faz eu me sentir menos miserável e mais parte de uma comunidade global do eterno sofrimento humano. De toda forma, lá estava eu, ouvindo meu novo amigo heterossexual e atraente falar sobre como ele é inseguro e sobre sua visão deturpada de si mesmo. E enquanto ele descrevia seus medos de ser desinteressante, enfadonho e mal apessoado, eu não pude deixar de pensar em como toda aquela loucura derivava de um ego enorme.
E justamente por me identificar com todo aquele drama, a associação de ideias foi inevitável. Eu era como ele. E por trás das minhas inseguranças e do meu complexo de inferioridade, escondia-se um narcisismo exacerbado e uma enorme capacidade de passar horas pensando em mim mesmo. Sim, porque uma pessoa deliberar sobre seus próprios defeitos e incapacidades não deixa de ser uma forma torta de passar uma boa quantidade de tempo circulando pelo seu próprio umbigo. E eu sou essa pessoa. A vantagem é que, pouco a pouco, eu vou me curando das minhas insanidades. A desvantagem é que um dia desses eu vou ter alta e vocês bem vão sentir minha falta.
Não vão?

terça-feira, 28 de abril de 2015

FERIDO

Estive gastando toda uma vida ponderando se valia a pena apontar para mim mesmo o lado ensolarado do Ser Eu. Com todas as minhas limitações, imperfeições e condições humanas viciadas e mal tratadas por anos de convívio prejudicial com o resto da minha raça. Com orgulho e com vergonha de toda a maravilha e abominação contidas em mim. Com o nariz empinado, embora morra de medo, me sustenta a ousadia. -Constato sem surpresa nem susto que possuo em mim vários demônios. O pecado me atrai, o proibido me fascina, a insegurança me devora. Tantas vezes o ciúme me cutuca. Mas, por favor, nada de exorcistas, convivo bem com meus íncubus. Bom, pelo menos meus demônios passeiam ao redor de mim ( e dos que amo e desejo ), pois não me incomoda a inveja. E nem a cobiça. Desejaria que minhas falhas e lapsos machucassem só a mim, mesmo sabendo que isso é fantasia. Fazer o quê? Esperar que os que se ferem com meu egoísmo também usufruam da minha generosidade? Já de saída me sinto intimado pela claridade. Não tenho absolutamente o costume de notar mais coisas boas em mim, falta de prática ou de aptidão. Não se trata de falsa modéstia, já que não me alimenta a bajulação alheia ( ah, o ego!!! Monstrinho disfarçado de auto - estima. .. ). Talvez pelo sentimento que não passa de obrigação ser o melhor possível. Tamos aí pra isso mesmo. Ninguém devia merecer prêmio por ser legal, honesto, íntegro. Isso deveria constar como pré - requisito básico para Ser Humano. Mas entre Nobels e feridos, aqui vamos nós, empurrados a Ter para Poder, e sem saber direito o meu e diabos ser...

segunda-feira, 20 de abril de 2015

DE INSALUBRE A PLENO

Um filme insosso,
Minha vida dias atrás.
Fui velho, embora ainda moço, 
Fiquei triste e incapaz.

A solidão costumeira
Deixou minha vida sem sal,
Tornou-me seu companheiro,
E fez minha dor abissal.

O amor próprio bateu-me nos ombros,
Sacudiu-me e acordei para vida
Destruí recordações, limpei escombros,
Soergui-me e me sinto vivo, embora sofrido!

A força da mente mudou-me
E fez bela minha vida.
Esse dom especial, e eu, 
Ser carnal animado por ela, 
Mereço outro filme, com um grande final.
Célia Carvalho

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Único

Eu sei como é ser uma pessoa solitária perdida e invisível. Eu me sinto como o Pinóquio, um garoto de madeira sustentado por cordas que deseja ser real. Como um pedaço de madeira com características humanas. Uma coisa. Preciso ser esculpido, ser educado, tenho uma necessidade de culturalização.
No entanto sou egoísta. Passei grande parte da vida vivendo os princípios do prazer, não tinha funções a não ser evitar a dor. Mas  as consequências de minhas atitudes impensadas me pressionaram a aprender os demais princípios e o mais importante deles - o principio da realidade. A realidade, por vezes criticada por mim e vista como uma mecanização da vida, que por vezes me aproxima da condição humana.
Como o Pinóquio - eu sempre quis me libertar do estigma de 'marionete'  , saindo do meu egocentrismo e mirando àquilo que está ao meu redor, acho que sempre quis ser percebido, valorizado, esse sempre foi um motivo velado desse blog. As páginas da internet que criei, os colegas que convido pra beber nos bares, sempre correndo atrás de quem possa me ouvir, sempre correndo atrás de me tornar uma pessoa.
- Não há muitos como você, não é Dan?
- Eu gosto muito de pensar que sou o único.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Prostitutos do Governo

É triste um país se deixar levar pela ficção, pela alienação que a mídia tenta impor sobre as nossas mentes. Mediante isso pense se quer ser como a maioria ou se quer lutar contra essa mídia podre para ter uma visão crítica e ideologia própria para seu meio social.

A vida é feita de fragmentos de verdade e cada um escolhe a alienação que melhor lhe convém, visto que passaremos a vida toda buscando provar nossas crenças. Homens são todos cafajestes? Mulher gosta é de dinheiro?

Casamento é uma instituição falida? Romance é capítulo de livro de história? Amor é ilusão? Você é quem sabe. Você é quem sai na rua atrás de pessoas compatíveis com sua fé para validar sua realidade, se relacionando com malandros e interesseiras, firmando matrimônios fadados à bancarrota e fugindo de romances e do amor pela porta dos fundos. Se consola, um dia você esfregará na cara dos outros a exatidão sóbria que escolheu padecer.

segunda-feira, 23 de março de 2015

O Efadonho

Enquanto a luz da lua conduz passos silenciosos e turvos,na cabeça passa-se uma única questão : ''Um novo sol se nasce, outro solitário volta pra casa''.
A noite encarregou-se de ocultar os vícios, as dores(...) Mas na manhã seguinte sempre há o medo, sempre acordando sozinho, sempre questionando de forma hedionda o precisar de um outro ser humano para afirmar uma felicidade que ele nunca encontra - Afirmar o próprio eu. Juntos, esses sentimentos de vazio, solidão, falta de auto-reconhecimento, hora inquestionáveis, hora irrelevantes fazia-se frequentes. Se a vida não tem sentido ser vivida sozinha, porque nasceres sozinho, cai e levanta-te sozinho, e no final você vai sozinho?
Se a manhã trata de te trazer luz, porque permaneces em tão profunda escuridão- essa alma que hora contesta hora conforma-se? A auto confiança sempre dissecada nesses textos, permanece sempre distante, vaga, impossível... Pelo/Por que será que escrevo ?

Somos tudo aquilo que deixamos de ser

Meu bem, o mundo é enfadonho e o amor é cada vez mais esquecido. Cada vez mais surrado, mais sofrido e escasso. Pois o amor está nos detalhes. Detalhes esses, que esquecemos quando só olhamos para nós mesmos, quando perdemos a sensibilidade de um pôr do sol, a beleza da morte de uma flor e a melancolia do cantar de um pássaro.
Meu bem, muitos morrerão apenas sabendo escrever a palavra amor.
Victor. 

quarta-feira, 18 de março de 2015

Fisionomia

Por que ser diferente? 
A julgar pela fisionomia, ele, que ali deitado fumava, olhava o vazio e apreciava seu som, pensava. 
Pensava..
Não sentia fome, e não havia comido o dia inteiro.
Não sentia frio, e um gélido vento soprava em seus pés descalços.
Parado, pensava..
Pensava no "Ontem" e nos labirintos que enfrentara.
Pensava no "Hoje" e nos caminhos a decidir.
Ele, brutalizado por tantas perdas não sabia onde ir.
Sua fisionomia cria desafios? - Perguntara um desconhecido.
- É um horror - respondeu ele.
- Não em todo lugar:
há um lugar onde o mal formado tem graça, onde o hediondo pode ser bonito, onde a estranheza não é evitada, mas celebrada. Este lugar se chama auto-aceitação.

terça-feira, 17 de março de 2015

Não Volto Mais

Preciso encontrar-me,
porque por vezes não sei quem sou,
o que faço, o que falo, 
sinto-me vazio, sem o meu eu,
não sei de onde venho, 
para onde vou,
os meus passos estão perdidos,
não encontram um caminho,
estou errado nesta estrada sem fim,
tudo me parece distante, ausente,
incessantemente decadente.
Dantes tinha brilho nos olhos,
mas agora as luzes estão apagadas,
não tenho medo do escuro, habituei-me a ele,
companheiro de longas horas,
as fortalezas também caem,
as pontes também desabam,
os muros reconstroem-se...
mas se eu partir não volto mais!

terça-feira, 10 de março de 2015

Puro Demais Para Você

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos. Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo. (...) Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado a qual um único bêbado bebe, um único copo de bourbon, contemplado por um unico garçom. Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar será feliz para sempre. Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miudas. Lareiras acesas, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de heras. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone." Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas. Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Caio F Abreu

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Sozinho Como Todo Mundo

A carne cobre os ossos e colocam uma mente ali dentro, e algumas vezes uma alma, e as mulheres quebram vasos contra as paredes, e os homem bebem, demais
e ninguém encontra o par ideal, mas seguem na procura rastejando para dentro e para fora
dos leitos. A carne cobre os ossos e a carne busca muito mais do que mera carne. De fato, não há qualquer chance: estamos todos presos a um destino singular. Ninguém nunca encontra o par ideal. As lixeiras da cidade se completam, os ferros-velhos se completam, os hospícios se completam, as sepulturas se completam.
Nada mais se completa.

Charles Bukowski

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Coração Rebelde

Eu vivi minha vida como um masoquista, ouvindo o meu pai dizer, "Eu te avisei, te avisei""Porque você não pode ser como os outros?" -"Ah, não, isso não sou eu e acho que jamais seria". Pensei que eu pertencesse a uma tribo diferente, andando sozinho, nunca satisfeito,tentava me enturmar, mas não era eu. Eu queria mais, aquilo não era o que estava procurando!
Então eu peguei um caminho... a estrada menos percorrida e quase não consegui sair vivo, atravéz da escuridão, de alguma forma sobrevivi. Um amor forte, eu sabia desde o início, do fundo das profundezas do meu coração rebelde.

Rebel Heart, Madonna

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Infalso

Vivemos em um mundo de mentiras, falsos sentimentos, atitudes forçadas, hipocrisia. Tenho a impressão de que o mundo é montado, tem roteiro, personagens.... pura ficção. É só uma impressão. Observo tudo ao meu redor com muita atenção e cada detalhe é considerado, e o que eu vejo? Sorrisos fingidos, amores traídos, gente pisando em gente, um ar contaminado pela inveja. O motivo da minha felicidade é que às vezes me deparo com pessoas de verdade, que olham no olho, são transparentes, sem mistérios. Elas são aquilo que se mostram para você. Estas pessoas de caráter admirável e sentimentos puros não se deixam levar pela onda de falsa devoção. O jeito é respirar fundo e ficar atento àqueles que realmente fazem a vida valer a pena. E essa é a  única coisa que realmente me faz ficar bem, a imagem que contemplo e amo: todo o resto é ficção. São falsas as minhas amizades, nascidas do acaso e crescidas na mediocridade, tão pouco intensas... São falsos os beijos que timidamente dei em algumas pessoas: mal encosto os lábios, sinto uma espécie de repugnância, e poderia fugir para bem longe dali quando sinto a língua deles se enfiando desajeitada. É falsa essa casa, tão pouco parecida com o estado de espírito que tenho agora. Queria que de repente todos os quadros saltassem das paredes, que pelas janelas entrasse um frio gélido e congelante, que ganidos de cães tomassem o lugar dos cantos dos grilos. E pela primeira vez, confesso: Quero amor, amigo. Quero sentir meu coração se derreter e quero ver as estalactites do meu gelo se quebrando e afundando no rio da paixão, da beleza.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Iluminado

Inovadores e criadores são pessoas que conseguem aceitar a condição de isolamento em um grau mais alto do que a média. Eles estão mais dispostos a seguir sua própria visão, mesmo quando isso os leva longe do continente da comunidade humana. Lugares inexplorados não os amedrontam - ou não tanto quanto amedrontam aqueles a seu redor. Este é um dos segredos do seu poder. Aquilo que chamamos de 'genialidade' tem muito a ver com a coragem e ousadia, muito a ver com audácia.
Muitas vezes, valorizar o próprio isolamento e abraçar a solidão é encontrar paz e fortalecer-se na alma. Pois, estar rodeado de pessoas envolvidas com o barulho do mundo, pode ser a pior ilusão que faz distanciar-se de si mesmo.

Hoje, aceito a solidão de bom grado, pois é sozinho que revejo os meus conceitos, estudo minhas atitudes, leio, desenho, pinto, escrevo(...) Está só não é necessariamente estar sozinho, hoje aceito de bom grado... como o Menino do Beco, que em um isolamento bem estreito, com uma aparência admirável onde se era inalcançável, seu melhor esconderijo. Algumas vezes tinha um leve cheiro de ''mijo'', mas nunca ficando deprimido, gostando de ficar bem no meio, Olhando pra cima, com aquele céu bem azulzinho - Querendo ser um passarinho.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Usuário


Estou me transformando aos poucos num ser humano meio viciado em solidão. E que só sabe escrever. Não sei mais falar, abraçar, dar beijos, dizer coisas aparentemente simples como “eu gosto de você”. Gosto de mim. Acho que é o destino dos escritores. E tenho pensado que, mais do que qualquer outra coisa, sou um escritor. Uma pessoa que escreve sobre a vida – como quem olha de uma janela – mas não consegue vivê-la.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A Cela


Refugiavam-se em arbustos
à procura de um rápido recomeço;
tentavam esquecer aqueles momentos
tão difíceis, tão sofridos
até que, de repente,
se deparavam com seus já tão conhecidos
e sórdidos fantasmas;
que logo lhes cuspiam à face
e lhes torturavam ali mesmo;
e logo lhes algemavam
e logo lhes jogavam no vão são do carro velho.
Passado um tempo
e, quando me dei por conta,
lá estavam eles,
todos os meus pensamentos;
trancafiados à luz daquela cela;
à luz da cela de meu interminável sofrimento.

John Borowski Lopes