terça-feira, 30 de junho de 2015

Onde se conhece alguém?

Em primeiro lugar, gostaria de deixar bem claro que eu não faço a menor ideia. Não sei o que se passa com as pessoas interessantes dessa cidade. Ao que parece, elas se escondem em algum porão secreto e, quando aparecem, já estão casados ou namorando. Ou então, o porão era uma espécie de aplicativo e eles estão lá sarados e padronizados.Um amigo meu, que eu considero legal e descolado, disse que conheceu o namorado dele num samba. Concluí que eu também poderia perfeitamente conhecer alguém interessante num samba. Exceto por um detalhe. Eu não sei sambar. Talvez flertando num bar. Só não sei que bar. Aqui em Brasília, só conheço bares com mesas para grupos de amigos ou casaizinhos. Ou grupos de amigos compostos por casaizinhos. E eu geralmente estou nessas mesas, como representante do número ímpar. De todo modo, é impossível flertar nesse tipo de bar. Primeiro porque eu não sei flertar. Quando eu fixo o olhar em qualquer coisa por mais de cinco segundos, meus olhos começam a arder e a lacrimejar. Dali a pouco o cara vai achar que eu estou chorando porque estou deprimido. Também não sei ser sedutor/sensual. Um outro amigo, que eu também considero legal e descolado, disse que conheceu o marido dele em uma boate. Aliás, falando nisso, qual é o termo atual para “boate”? Acho “boate” muito anos 60. E discoteca é super anos 70. Afinal, qual o nome que se dá àquele lugar insalubre e lotado onde uma porção de gente desinteressante se reúne para beber e dançar ao som músicas desagradavelmente altas? Um terceiro amigo, também muito legal e descolado, disse que o termo para isso é “night”. Tenho certeza absoluta de que se for pra conhecer alguém interessante não será nem num samba, nem num bar, nem na “night”.
Nossos amigos legais, descolados e solteiros têm sempre alguém ótimo para nos apresentar. E eu sempre penso que se a pessoa fosse assim tão ótima, os amigos iriam querer pra eles. Já os legais, descolados e comprometidos entram numa de nos apresentar os amigos dos namorados deles. Outra roubada. Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que amigo de namorado de amigo NUNCA é interessante. Eles são sempre meio carecas, convencionais e cheios de opiniões irritantes sobre vários assuntos. Quando aparece um mais bacaninha, pode ter certeza de que é comprometido. Talvez as pessoas interessantes estejam no cinema. Ou numa exposição de um artista plástico incrível que eu não vou saber o nome porque não sou culto o bastante. Talvez essas criaturas estejam do seu lado e você não perceba. Ok, isso é totalmente mentira. Eu olho para os lados O TEMPO TODO e não vejo nada. Ainda não descobri qual é o tal porão secreto onde as pessoas interessantes e solteiras de Brasília se escondem. Se alguém ficar sabendo, por favor, me conte. Até lá, triste admitir, poderei ser visto circulando pela cidade, provavelmente em sambas, bares e “nights”. Talvez até saindo com amigos de namorados de amigos. E sempre, sempre olhando para os lados.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Meu Cupido Usa Arma

Minha vida não girava em função disso, mas de vez em quando passava pela minha cabeça, a um tempo atrás, no táxi a caminho de uma festa ou descendo a escada rolante do Shopping: será que hoje eu vou conhecer alguém?
Eu sempre duvidava muito. Essas coisas não acontecem, pensava, enquanto rastreava cuidadosamente o perímetro à procura de alguém em potencial.No fundo eu sei que ele não está ali; seria óbvio demais. Mas também não consigo deixar de procurar. É como se, fazendo isso, eu estivesse me isentando da responsabilidade. Tipo, fiz a minha parte, colega. Procurei pra caramba e você nem estava lá. Só que esse hábito foi se desenvolvendo e acabou virando um tipo de transtorno obsessivo compulsivo. E toda vez que eu pensava no assunto, toda vez que eu lembrava que podia conhecer alguém hoje, eu entrava em pânico. Porque percebia que não fazia a menor ideia de quem seria essa pessoa. Qualquer um poderia ser alguém. Era preciso ficar atento; e - meu deus - como isso é exaustivo . A impressão que eu tinha é que basta um movimento errado, um segundo de distração, para que eu deixe algo passar. Vai ver que era por isso que eu não conseguia dormir à noite. Talvez eu tinha medo de fechar os olhos e perder alguma coisa importante. Mas era impossível controlar tudo, não tem como. E é bem provável que eu não encontrasse alguém naquele dia. Talvez eu não encontrasse alguém nunca. De repente, eu que seria encontrado. E em vez de me preocupar tanto em olhar em volta, eu deveria aprender a fechar os olhos e, pelo menos uma vez, deixar que me procurem.Se alguém fosse esperto, iria me achar.