segunda-feira, 23 de março de 2015

O Efadonho

Enquanto a luz da lua conduz passos silenciosos e turvos,na cabeça passa-se uma única questão : ''Um novo sol se nasce, outro solitário volta pra casa''.
A noite encarregou-se de ocultar os vícios, as dores(...) Mas na manhã seguinte sempre há o medo, sempre acordando sozinho, sempre questionando de forma hedionda o precisar de um outro ser humano para afirmar uma felicidade que ele nunca encontra - Afirmar o próprio eu. Juntos, esses sentimentos de vazio, solidão, falta de auto-reconhecimento, hora inquestionáveis, hora irrelevantes fazia-se frequentes. Se a vida não tem sentido ser vivida sozinha, porque nasceres sozinho, cai e levanta-te sozinho, e no final você vai sozinho?
Se a manhã trata de te trazer luz, porque permaneces em tão profunda escuridão- essa alma que hora contesta hora conforma-se? A auto confiança sempre dissecada nesses textos, permanece sempre distante, vaga, impossível... Pelo/Por que será que escrevo ?

Somos tudo aquilo que deixamos de ser

Meu bem, o mundo é enfadonho e o amor é cada vez mais esquecido. Cada vez mais surrado, mais sofrido e escasso. Pois o amor está nos detalhes. Detalhes esses, que esquecemos quando só olhamos para nós mesmos, quando perdemos a sensibilidade de um pôr do sol, a beleza da morte de uma flor e a melancolia do cantar de um pássaro.
Meu bem, muitos morrerão apenas sabendo escrever a palavra amor.
Victor. 

quarta-feira, 18 de março de 2015

Fisionomia

Por que ser diferente? 
A julgar pela fisionomia, ele, que ali deitado fumava, olhava o vazio e apreciava seu som, pensava. 
Pensava..
Não sentia fome, e não havia comido o dia inteiro.
Não sentia frio, e um gélido vento soprava em seus pés descalços.
Parado, pensava..
Pensava no "Ontem" e nos labirintos que enfrentara.
Pensava no "Hoje" e nos caminhos a decidir.
Ele, brutalizado por tantas perdas não sabia onde ir.
Sua fisionomia cria desafios? - Perguntara um desconhecido.
- É um horror - respondeu ele.
- Não em todo lugar:
há um lugar onde o mal formado tem graça, onde o hediondo pode ser bonito, onde a estranheza não é evitada, mas celebrada. Este lugar se chama auto-aceitação.

terça-feira, 17 de março de 2015

Não Volto Mais

Preciso encontrar-me,
porque por vezes não sei quem sou,
o que faço, o que falo, 
sinto-me vazio, sem o meu eu,
não sei de onde venho, 
para onde vou,
os meus passos estão perdidos,
não encontram um caminho,
estou errado nesta estrada sem fim,
tudo me parece distante, ausente,
incessantemente decadente.
Dantes tinha brilho nos olhos,
mas agora as luzes estão apagadas,
não tenho medo do escuro, habituei-me a ele,
companheiro de longas horas,
as fortalezas também caem,
as pontes também desabam,
os muros reconstroem-se...
mas se eu partir não volto mais!

terça-feira, 10 de março de 2015

Puro Demais Para Você

Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos. Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo. (...) Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado a qual um único bêbado bebe, um único copo de bourbon, contemplado por um unico garçom. Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar será feliz para sempre. Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miudas. Lareiras acesas, poltronas fundas, macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de heras. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or anyone." Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas. Meu coração é um filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.

Caio F Abreu