Meu coração é um bordel gótico em cujos
quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas
lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de
todos os sexos. Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo
de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo. (...) Meu coração
é um bar de uma única mesa, debruçado a qual um único bêbado bebe, um único
copo de bourbon, contemplado por um unico garçom. Meu coração é um sorvete
colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar
será feliz para sempre. Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por
papel de florzinhas miudas. Lareiras acesas, poltronas fundas, macias, quadros
com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de heras. Sobre a renda branca
da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao
lado, alguém sublinhou um verso de Sylvia Plath: "Im too pure for you or
anyone." Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas. Meu coração é um
filme noir projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na
tela e vaia a história cheia de clichês.
Caio F Abreu
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