quinta-feira, 29 de março de 2012



Além da chuva no caminho de volta pra casa, nada no mundo me deixa mais frustrado e mais inconsólavel do que não acertar. São horas me martirizando, reconstituindo a cena, refazendo o momento exato do não acerto e imaginando como a vida seria muito melhor e eu seria muito mais feliz se não tivesse errado.
Na verdade, só existe uma coisa pior do que errar: errar de novo. Errar múltiplas vezes. Errar pra cacete. E eu já errei pra cacete.Hoje, por exemplo, eu errei uma conjugação verbal. Três vezes. E eu me odeio por isso. Vezes três. Porque esse é meu ofício. Eu posso errar a conta do boteco - especialmente se eu estiver bêbado, o que geralmente acontece quando eu estou num boteco -, mas errar conjugação verbal é inaceitável.É por isso que eu nunca levantava a mão para responder as perguntas dos professores. E ficava indignado quando o Tiago me ouvia balbuciar a resposta e repetia em voz alta, como se ele fosse muito inteligente. Maldita Tiago. O dia em que eu levantei o braço e dei a resposta mais equivocada do mundo foi o dia em que eu decidi nunca mais arriscar. Estaria mudo, mas nunca errado.A mesma lógica se aplica aos meus relacionamentos afetivos. Depois de vários fracassos retumbantes, decidi ser mais do que mudo. Virei um imenso bloco de concreto que não erra, e também não quebra. O problema é que sempre haverá um Tiiago ao lado, pronto para dar a resposta por você. E ele não terá medo de errar. Vai levantar o braço e berrar para a sala inteira ouvir. Malditos Thiagos. Enquanto eu estiver frustrado e inconsolável, eles estarão equivocados e infinitamente mais felizes.






Quando toco a vela acesa falta seu calor. Se me corto com a faca não há dor. É verdade que eles vivem e a morte em mim está. Mas, não deixo de sofrer. Não demora, vai se ver...No meu rosto alguma lágrima rolar.
Quando toco a vela acesa eu não sinto dor. Tanto faz se estou no frio ou no calor. O meu coração não bate, mas, ainda assim se parte e não deixa de sofrer, recusando-se a render. A morte em mim está, mas ainda tenho lágrimas pra dar.






Estou destruído, mas, estou feliz. Sou pobre, mas sou gentil; Sou baixinho, mas sou saudável, sim. Estou viajando, mas estou de castigo. Sou sensato, mas subjugado. Estou perdido mas tenho esperança; E a que tudo isto se resume? É que tudo ficará bem...
Porque uma de minhas mãos esta no bolso, e a outra está dando um aperto de mão. Sinto-me bêbado mas estou sóbrio. Sou jovem e ganho muito mal. Estou cansado, mas estou trabalhando.
Eu me importo, mas estou inquieto .Estou aqui mas na verdade não estou. Estou errado, e sinto muito, amor..
E a que tudo isto se resume? É que tudo vai ficar bem..
Porque uma de minhas mãos esta no bolso,e a outra está acendendo um cigarro. E a que tudo isto se resume? É que eu não entendi tudo ainda;Porque uma de minhas mãos esta no bolso, e a outra está fazendo um sinal de paz. Eu sou livre, mas sou delicado. Sou imaturo, mas sou esperto. Sou calado, mas sou amigável.
Estou triste, mas estou sorrindo. Sou corajoso, mas sou um covarde. Eu sou um maluco, mas sou bonito. E o que isso tudo significa? É que ninguém conseguiu decifrar tudo. Porque uma de minhas mãos está no bolso e a outra está tocando violão. E a que tudo isto se resume, meus amigos? É que está tudo bem. Porque uma de minhas mãos esta no bolso, e a outra está chamando um ônibus.


As pessoas vêem sua foto. Te acham bonito. Tem a curiosidade de te conhecer. Te conhecem ( porque você finge ser difícil e moralmente respeitável). Mas quando te conhecem, percebe que você não tem conteúdo, não tem história. Não tem estrada. Só tem pouca idade e superficialidade. Você é mimado e finge ter dor de dente pra ganhar um abraço, como qualquer outra pessoa com a idade mental que você tem. Você acha que tem razão de tudo por se achar mais racional que as outras pessoas. Por achar que é mais prático. Critica as pessoas sem ter a mínima curiosidade de saber de onde elas vieram. Do caminho que elas percorreram até chegar a você. Você tem sim, milhões de pessoas querendo te beijar e passar uma noite com você. Uma. Você procura preencher seu vazio se inspirando nos outros porque não tem a capacidade de tentar se reconhecer de tentar pular nos seus abismos, tem medo de conhecer sua própria profundidade. As pessoas ao menos trabalham pra serem perfeitos. Você está muito longe desse trabalho. E ainda se dá ao luxo de usar de arrogância pra se defender dos outros. Mais covarde que isso só sua alma inexistente. 
Nessas horas, eu me forço a tentar te odiar e eu queria muito te odiar. Fazer você sofrer como eu sofro, mas nesses momentos de raiva, eu mal consigo me livrar de você. Mal posso esperar para acabar com essas mudanças emocionais. Eu mal posso esperar para te encarar, deixar você tão abatido, até que você não tenha pra onde fugir. Mas, sabe, esse amor foi um fenômeno que ninguém consegue explicar.
As vezes eu tenho vontade de desligar meu telefone para que você não ligue e perceber que estou chateado, aliás, quando estou chateado com você eu quero me desligar de tudo, inclusive de você. Desculpa amor, mas essas frustrações me fazem sentir desse jeito e eu continuo tendo uma ultima coisa a dizer: 
Eu apenas quero abraçar você. Tocar você, sentir você, ficar perto de você...Eu sinto sua falta amorzinho.
 :(

terça-feira, 27 de março de 2012






















Essas pessoas ...Essas pessoas que me dão uma gaiola como casa, amarram minhas asas e que ainda dizem para eu ser feliz;
Como eu posso ser feliz num poleiro? Como eu posso ser feliz sem pular ? Mas como eu posso ser feliz num viveiro, se ninguém pode ser feliz sem voar? Minha única saída é segurar meu pranto para transformar em canto. E para meu espanto minha voz desfaz os nós que me apertam tanto; E já sem a corda no pescoço, sem as grades na janela .E sem o peso das algemas na mão .Eu encontro a chave dessa cela. Devoro o meu problema e engulo a solução.
Ah, se todo o mundo pudesse saber como é fácil viver fora dessa prisão, e descobrisse que a tristeza tem fim e a felicidade pode ser simples como um aperto de mão. Entendeu?
É esse o vírus que eu sugiro que você contraia.Na minha procura pela cura da minha loucura, quem tiver cabeça dura vai morrer na praia.



Religião e espiritualidade me sufocam.  Tudo em relação a Igrejas e Padres e suas crenças. Confesso que sou até muito duro e tenho muito preconceito com esses assuntos.  Mas, deve ser uma coisa normal, ouvi dizer que muitas pessoas vivem por muito tempo sem se relacionar com algum tipo desses temas. Tem gente que nunca entrou em uma igreja e que não acreditam em Deus.  É muito delicado, e por mais que seria fácil me esquivar quando alguém tenta falar sobre isso comigo, vejo uma boa oportunidade pra tocar no assunto. O problema é que toda vez que você discute religião você afasta as pessoas umas das outras, promove o sectarismo e a intolerância. A religião coloca de um lado os adoradores de Allá, de outro os adoradores de Javé, e de outro os adoradores de Jesus. Isso sem falar nos adoradores de Shiva, de Krishna, os devotos do Buda, e por aí vai. Os religiosos se concentram muito mais em defender sua crença contra os outros do que tornar isso uma ferramenta para aproximar as pessoas. Pra mim a religião é um problema que precisa ser posto em questão mais vezes, e é a partir daí que  nota-se a diferença da religião e da espiritualidade. Quando você concentra sua atenção nos valores espirituais, você agrega pessoas, aproxima os diferentes, fazem com que os discordantes no mundo das crenças se dêem as mãos no mundo da solidariedade, na busca de superação do sofrimento humano, que a todos nós humilha e iguala, independentemente de raça, gênero e, inclusive, religião. Você promove a justiça e a paz. 
- Dois motivos me fizeram falar sobre esse tema hoje:  Imagine de John Lennon e meu querido amigo Murillo Rebouças – Que aguenta minhas duras críticas ao seu estilo de vida religiosamente religiosa e santificada. Mas que pouco nota que toda vez que eu o critico ele me ensina e cada vez mais expande meu olhar para uma coisa mais sensitiva. Que não pode ser vista nem tocada e sim sentida.
É muito importante para mim que vocês todos pudessem saber que eu não estou aqui tentando desvalorizar alguma religião sequer do planeta. Eu estou aqui como uma pessoa que respeitosamente tem a curiosidade de querer aprender mais sobre esses temas que pra mim são suspensos, imersos e nebulosos. E apesar de ser descrente de muitos desses assuntos envolvidos, a gente aprende que se quisermos algo na vida, nós temos que dar aquele mesmo algo. Se quisermos compaixão, temos que dar compaixão, se quisermos tolerância, temos que dar tolerância. Se não quisermos ser julgados, não devemos julgar.A religião  que eu espero do mundo, deveria ensinar as pessoas a nunca pensarem de forma limitada, As pessoas aprenderiam ter  o poder  de fazer milagres acontecer. Com o tempo as pessoas amadureceriam e aprenderiam a não querer violência, a não querer guerra. Aprenderiam a querer Paz. Ensinariam nossas crianças o que estamos querendo aprender como adultos. Isso tornaria as pessoas mais abertas, mais vivas e propícias a não ver o mundo de uma forma fragmentada. Não pensaria – ‘ Há, ele é macumbeiro’ ou ‘ Ela é mulçumana’. Elas não julgariam as outras de acordo com a cor da pele ou estilo de cabelo. As vezes, é difícil olhar para o mundo mau lá fora e sentir o desejo ardente de ajudar um outro ser humano. Porém, talvez, se você olhasse tudo com outros olhos, sentiria um puxão no coração. Talvez, sentiriam o desejo de dar um futuro melhor para alguém que mora nas ruas. E talvez, apenas talvez, sentiriam sede de tornar o mundo um lugar melhor. Assim, estou aqui para fazer a seguinte pergunta: O que estão esperando?  
Eu nunca fui de frequentar a igreja, minha família também, nunca senti a necessidade  e acredito em Deus. Eu não acredito é em religião; Em regras; Em mandamentos... Pra mim Deus, sempre esteve próximo de algo mais interior. Não é uma coisa que você precise provar que acredita. Mais uma páscoa  está chegando e eu sinceramente espero um pouco mais de luz e esperança. Se mais pessoas acendessem mais velas, elas tornariam a escuridão menos escura. Nós precisamos trocar ideias, precisamos aprender mais uns sobre os outros. Nós precisamos de amor, sem amor, acho  que não existiria vida.




segunda-feira, 26 de março de 2012

Entortados


Acho que o maior problema dos relacionamentos contemporâneos é da ordem gastronômica. Da forma como eu vejo - e talvez esteja influenciado pela fome porque comeram todo o jantar - as pessoas são como grandes tortas de sabores variados. Algumas a gente bate o olho e já sabe que vai gostar, às vezes só pelo cheiro. Outras vezes, a gente segue a intuição e só depois descobre que é alérgico a nozes, ou pior, que a torta em questão curte sertanejo universitário. Mas, ao contrário do que você possa estar pensando, o problema dos relacionamentos contemporâneos não reside no fato de que somos tortas gigantes. Tortas são bonitas e gostosas, na grande maioria das vezes - exceto nas festas de confraternização de colegas de trabalho. A tristeza da coisa está na constatação de que estamos vivendo uma espécie de comidaaquilorização da afetividade. Isso significa que, devido a alta oferta de tortas no mercado, ninguém consegue se focar em apenas um sabor. O que temos hoje é uma porção de tortas sendo vorazmente garfadas e deixadas de lado, aos pedaços, disformes, tristes. Todo mundo quer um pedacinho de torta, uma fatiazinha fina do tipo "estou-de-dieta-não-quero-muito". Tem sempre alguém querendo dar uma mordiscada, uma lambidinha, uma passadinha de dedo marota. O que ninguém quer - ou tem coragem de fazer - é arriscar e levar a torta inteira para casa. E essa é a grande lástima da nossa geração. Estamos acostumados a tirar lasquinhas de várias sobremesas e levar à balança do restaurante para pesar. Estamos acostumados a ter muitas, muitas opções de comida. E de pessoas. Conheço gente que tem mais de 1.000 amigos no Facebook. Como se alguém fosse fisicamente capaz de ter mil amigos. E qual é o resultado disso? Tortas garfadas e destroçadas, sem lugar cativo na geladeira de ninguém, vagando por aí, pelas noitadas, pelas festas, tristes, tortas. E, pouco a pouco, elas vão perdendo a doçura. Vão se tornando descrentes, azedas, estragadas pelo ataque dos garfos despretensiosos. Somos tortas. Claro que somos comidas. Mas o que eu queria mesmo era experimentar a sensação de ser o preferido de alguém. Aquele que é levado dentro do pacote - o pacote completo, com todos os defeitos e qualidades, com todas as garfadas sofridas, com tudo aquilo que faz de mim a torta gigante que eu sou. Estou farto de me pedirem pedacinhos. Quero ser levado por inteiro.

sábado, 24 de março de 2012

Acendendo no meu peito .A fagulha dando um jeito .Que o coração sempre pediu .E eu me enfeito nesse ensejo .E atiço o teu desejo .O perfume chega pra dizer .Vou fazendo do meu jeito .Namorando meu acerto Um grito que ninguém ouviu .E eu me enfeito nesse ensejo. E atiço o teu desejo. O perfume chega pra dizer -Se eu fosse você já tinha chegado em mim.

sexta-feira, 23 de março de 2012

'' Máscaras. Cargos.Títulos: Vivemos uma realidade onde os verdadeiros valores estão “fora de moda”e o mais importante é TER e não SER!'' 
Tenho despendido alguns suspiros em decifrar o ter e o ser. Verbos esfinge. Decifrá-los-ei ou serei devorado, submetido, viverei apático sob o peso dessas duas situações.O Ter sempre me foi um estranho desconfortável e furtivo. Distante. Cumpria ali o seu papel de suprir as necessidades básicas: Ter comida pra poder viver, ter roupas para não andar nu, ter casa para poder morar. Nota-se que o ter geralmente precede o Poder – outra entidade, esta perigosíssima e demasiado solitária... -: quem tem mais pode. Eu tinha o necessário, podia o necessário e, de certo modo, era feliz na simplicidade ignorante de um cachorro de rua que se julga com sorte por vez ou outra achar um osso caído no chão. Quem só conhece o azul jamais vai sentir falta do amarelo. Só que um dia, fatalmente – porque o mundo é feito de universos heterogêneos -, a gente depara com pessoas que conhecem, além do nosso precioso– por ser único – azul, o vermelho, o amarelo, o branco. E aí PLUFT! Plantei a semente do questionamento. 
Da minha parte, que dês de cedo percebi q não fazia parte do seleto grupo de pessoas que conjugavam o Ter, fui em busca de outro verbo que me proporcionasse algo. Não ambicionava a satisfação superficial e volátil do possuir. Não me contentava com a ingenuidade simples do estar. Precisava de um verbo que me fizesse alguém. Precisava Ser alguma coisa. Ser legal, ser chato, ser piegas, ser, ser, ser... Há tanto pra ser!!! E agora, como se decide o que ser? Clareia-me agora que o Ser para realmente valer a palavra e o sentido tem de estar impregnado de verdade. Senão se transforma em fingir. E o Ser embebido de verdade implica julgamentos e cobranças. Mas não é um fardo defender o que se acredita, é espontâneo, natural. E é assim que cai a minha ficha, é assim que eu vislumbro o deleite e a responsabilidade de assumir a minha busca: o Ser eu. Com todas as minhas limitações, imperfeições e condições humanas e viciadas e maltratadas por anos de convívio prejudicial com o resto da minha raça. Com orgulho e com vergonha de toda a maravilha e abominação contidas em mim. Com o nariz empinado, embora morra de medo, me sustenta a ousadia. E esse é só e parcamente o primeirinho passo, depois de ver o Ser eu, cabe agora lapidar a pedra bruta. Desse Ser eu, o que é mais nobre? O que me escora? O que vale a pena? Desse Ser eu, o que me atravanca e me limita? O que me atrasa? E, ainda – cava-se e a buraqueira só aumenta – disso que me atrasa. O que está na minha mão e é passível de cura? Sim, porque tem coisas que simplesmente são o que são e não comportam explicações e nem pensamentos racionais. Constato sem surpresa nem susto que possuo em mim muitos demônios. 
O pecado me atrai, o proibido me fascina, a insegurança me devora. Tantas vezes o ciúme me cutuca. Mas, por favor, nada de exorcistas, convivo bem com meus íncubos. Bom, pelo menos meus demônios passeiam ao redor de mim (e dos que eu amo e desejo), pois não me incomoda a inveja. E nem a cobiça. Desejaria que as minhas falhas e lapsos machucassem só a mim, mesmo sabendo que isso é fantasia. Fazer o quê? Esperar que os que se ferem com meu egoísmo também usufruam da minha generosidade? Gastei alguns minutos ponderando se valia a pena apontar pra mim mesmo o lado ensolarado desse Ser eu. Já de saída me sinto intimidado pela claridade.Não tenho absolutamente o costume de notar as coisas boas em mim, falta de prática ou aptidão. Não se trata de falsa modéstia, já que não me alimenta a bajulação alheia (ah, o ego!!! Monstrinho disfarçado de auto-estima...). Talvez pelo sentimento que não passa de obrigação ser o melhor possível.
 Estamos aí pra isso mesmo. Ninguém devia merecer prêmio por ser legal, honesto, íntegro. Isso deveria constar como pré-requisito básico para Ser humano. Mas entre Nobels e feridos, aqui vamos nós, empurrados a Ter para Poder, e sem saber direito o que diabos Ser.



' Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios... Como Narciso, fico diante dele... No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura... Por isto te amo, pelos peixes encantados...



Depois de algum tempo de namoro, você meio que acaba refletindo sobre a importância do amor na sua vida e o que ele significa pra você hoje em dia. Confesso que quase nunca me apaguei a ninguém. Minto, sou muito desapegado de qualquer coisa, principalmente a pessoas. Mas hoje, depois de alguns aprendizados morais nos quais a gente se fixa pra moldar defeitos como esse, acabei discernindo muito da minha personalidade. Mas como divagar sobre assuntos nebulosos, sempre me atraiu bastante, acabei questionando vários aspectos da minha, no caso: Por que eu amo meu namorado? Os apaixonados concordam que o amor não tem razões, ele nasce porque nasce. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa: "A rosa não tem "porquês". Ela floresce porque floresce." Drummond repetiu a mesma coisa no Poema ‘ As 100 razões do Amor ‘ - "Eu te amo porque te amo..." - sem razões... "Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo." Talvez tenha se inspirado em Silésius, mesmo sem nunca tê-lo lido, não sei, essas coisas de amor circulam como vento... Mas, antigamente, quando não estava apaixonado, eu Olhava para o amor com olhos de suspeita, curiosos. Querendo decifrar sua língua desconhecida. Procurando, ao contrário do Drummond, as cem razões do amor... Lembrei-me: Fui a Santo Agostinho, em busca de sua sabedoria. Reli as Confissões, texto de um velho que meditava sobre o amor sem estar apaixonado. Possivelmente aí se encontre a análise mais penetrante das razões do amor jamais escrita. E me defrontei com a pergunta que nenhum apaixonado poderia jamais fazer. Pasmem: "Que é que eu amo quando amo o meu Deus?" Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: "Que é que eu amo quando te amo?" Seria, talvez, o fim de uma história de amor. Pois esta pergunta revela um segredo que nenhum amante pode suportar: Que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. Nas palavras de Hermann Hesse, "o que amamos é sempre um símbolo". Daí, conclui ele, a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra. Pois bem, vamos às variações sobre a impossível pergunta: "Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no seu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios... Como Narciso, fico diante dele... No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura... Por isto te amo, pelos peixes encantados..."(Cecília Meireles)Mas eles são escorregadios, os peixes. Fogem. Escapam. Escondem-se. Zombam de mim. Deslizam entre meus dedos. Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro com esta outra coisa que, por pura graça, sem razões, desceu sobre ti, Mas, por ser graça, sem razões, da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. “E minha busca recomeçará de novo...” Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. A paixão se recusa a saber que o rosto da pessoa amada (presente) apenas SUGERE o obscuro objeto do desejo (ausente). A pessoa amada é metáfora de uma outra coisa. "O amor começa por uma metáfora", "Ou melhor: o amor começa no momento em que alguém se inscreve com uma palavra em nossa memória poética." Tive então, a chave para compreender as razões do amor: o amor nasce, vive e morre pelo poder - delicado - da imagem poética que o amante pensou ver no rosto da pessoa amada...


Calabouço

Na descrição geral O Calabouço é o lugar mais profundo de um castelo, geralmente utilizado como como armazém ou como porão.
É descrito em livros de terror como um lugar com pouca iluminação, muito empoeirado e de difícil acesso.
Pra mim, na minha visão - que pode soar filosoficamente gótica - O calabouço é o quarto mais escuro da minha alma.


'' Nesse quarto escuro existe um garoto assustado. Sozinho, teme que o mundo encontre o seu canto. Entrega ele pra cuidar, eu sei guardar segredo, eu sei amar. Não conto pra ninguém, que esse garoto é alguém de barba e gravata e que esse quarto escuro é sua alma.'' 







 Há anos atrás. Uma série de urgências levou-me a desconsiderar uma vida pacata numa cidade pequena e desmoronar num emaranhado de inconvenientes repetidos morando com parentes num lugar novo. Há anos atrás eu passei a viver sozinho, sem proteção e sem direção.
Eu passei a vida inteira ouvindo meus pais dizerem que para se tornar alguém na vida a gente tem que se dedicar sempre. Eu sempre fui diferente. Nunca gostei de nada convencional. Nunca gostei de aula e nem nasci grudado em ninguém. Desde muito cedo eu via o mundo do lado de fora de casa,- como na vez q todo mundo saiu e me esqueceram trancado dentro da casa, eu era criança, fiquei desesperado , depois disso eu sempre arrumava desculpa pra dormir fora.Quando me tornei um adolescente revoltado tudo piorou. A começar pela caveira tatuada na nunca, os coturnos e as vestimentas negras, eu me revoltei..mas não comigo mesmo: quando um dia, você ver passar na rua alguém assim. Sugiro. Não critique. Com absoluta certeza, essa pessoa tem um motivo pelo qual expressa sua raiva no seu modo de agir. Eu me revoltei com as pessoas ao redor, com a comunidade ao redor, com os valores corrompidos e as mentes distorcidas, eu me transformei no espelho do que achava q era feio. Por isso eles me achavam feio...Meus pais sempre quiseram que eu fizesse faculdade e me tornasse aquele tipo de filho babaca que todo pai quer ter. Tentei, mas como o esperado, como é da minha natureza não fingir..desisti. No fundo, eu era o único estranho ali. A única pessoa que não pertencia a casa nenhuma. Ninguém sabe além de mim, que choro as noites, antes de dormir, tentando me perdoar de tantas coisas sem sentido que eu acabei fazendo – pelo excesso de raiva- na minha vida. Dói saber que você perdeu o valor e q as pessoas não acreditam mais em você. Mas hoje, eu não saio correndo para os braços de ninguém, não tenho arrependimentos... Eu fico, e aguento. Nessas horas é só nas orações do meu pai a mim que eu penso. Nisso, e no meu eterno silencio. Tenho grandes lembranças, quase todas especiais, e tenho saudades das pessoas humanas que conheci. Só queria que todos tentassem me entender. Quando decidi sair da casa dos meus pais, naquelas urgências do inicio, foi pra não depender mais de ninguém, mas, de alguma forma, nesses processos, acabei caindo pelos cantos. Eu não preciso de convite pra lugar nenhum, eu sou como o vento, eu vou pra onde eu quiser ir, quando eu quiser ir, e não espero que o mundo seja pleno e normal, porque esse tipo de mundo não existe. Foram, sem exceção, todas essas quedas, que me fizeram perceber essas conclusões. Conheci muitas pessoas, mas a melhor delas foi O Leandro. Se não tivesse errado tantas vezes, não seria o que sou hoje. Caminhando pela rua à comprar cigarros na padaria. Penso : Há anos atrás, uma série de urgências me fizeram perceber que hoje, eu só devo me importar comigo mesmo.