sexta-feira, 23 de março de 2012

Depois de algum tempo de namoro, você meio que acaba refletindo sobre a importância do amor na sua vida e o que ele significa pra você hoje em dia. Confesso que quase nunca me apaguei a ninguém. Minto, sou muito desapegado de qualquer coisa, principalmente a pessoas. Mas hoje, depois de alguns aprendizados morais nos quais a gente se fixa pra moldar defeitos como esse, acabei discernindo muito da minha personalidade. Mas como divagar sobre assuntos nebulosos, sempre me atraiu bastante, acabei questionando vários aspectos da minha, no caso: Por que eu amo meu namorado? Os apaixonados concordam que o amor não tem razões, ele nasce porque nasce. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa: "A rosa não tem "porquês". Ela floresce porque floresce." Drummond repetiu a mesma coisa no Poema ‘ As 100 razões do Amor ‘ - "Eu te amo porque te amo..." - sem razões... "Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo." Talvez tenha se inspirado em Silésius, mesmo sem nunca tê-lo lido, não sei, essas coisas de amor circulam como vento... Mas, antigamente, quando não estava apaixonado, eu Olhava para o amor com olhos de suspeita, curiosos. Querendo decifrar sua língua desconhecida. Procurando, ao contrário do Drummond, as cem razões do amor... Lembrei-me: Fui a Santo Agostinho, em busca de sua sabedoria. Reli as Confissões, texto de um velho que meditava sobre o amor sem estar apaixonado. Possivelmente aí se encontre a análise mais penetrante das razões do amor jamais escrita. E me defrontei com a pergunta que nenhum apaixonado poderia jamais fazer. Pasmem: "Que é que eu amo quando amo o meu Deus?" Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: "Que é que eu amo quando te amo?" Seria, talvez, o fim de uma história de amor. Pois esta pergunta revela um segredo que nenhum amante pode suportar: Que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. Nas palavras de Hermann Hesse, "o que amamos é sempre um símbolo". Daí, conclui ele, a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra. Pois bem, vamos às variações sobre a impossível pergunta: "Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no seu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios... Como Narciso, fico diante dele... No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura... Por isto te amo, pelos peixes encantados..."(Cecília Meireles)Mas eles são escorregadios, os peixes. Fogem. Escapam. Escondem-se. Zombam de mim. Deslizam entre meus dedos. Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro com esta outra coisa que, por pura graça, sem razões, desceu sobre ti, Mas, por ser graça, sem razões, da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. “E minha busca recomeçará de novo...” Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. A paixão se recusa a saber que o rosto da pessoa amada (presente) apenas SUGERE o obscuro objeto do desejo (ausente). A pessoa amada é metáfora de uma outra coisa. "O amor começa por uma metáfora", "Ou melhor: o amor começa no momento em que alguém se inscreve com uma palavra em nossa memória poética." Tive então, a chave para compreender as razões do amor: o amor nasce, vive e morre pelo poder - delicado - da imagem poética que o amante pensou ver no rosto da pessoa amada...


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