quinta-feira, 29 de março de 2012



Além da chuva no caminho de volta pra casa, nada no mundo me deixa mais frustrado e mais inconsólavel do que não acertar. São horas me martirizando, reconstituindo a cena, refazendo o momento exato do não acerto e imaginando como a vida seria muito melhor e eu seria muito mais feliz se não tivesse errado.
Na verdade, só existe uma coisa pior do que errar: errar de novo. Errar múltiplas vezes. Errar pra cacete. E eu já errei pra cacete.Hoje, por exemplo, eu errei uma conjugação verbal. Três vezes. E eu me odeio por isso. Vezes três. Porque esse é meu ofício. Eu posso errar a conta do boteco - especialmente se eu estiver bêbado, o que geralmente acontece quando eu estou num boteco -, mas errar conjugação verbal é inaceitável.É por isso que eu nunca levantava a mão para responder as perguntas dos professores. E ficava indignado quando o Tiago me ouvia balbuciar a resposta e repetia em voz alta, como se ele fosse muito inteligente. Maldita Tiago. O dia em que eu levantei o braço e dei a resposta mais equivocada do mundo foi o dia em que eu decidi nunca mais arriscar. Estaria mudo, mas nunca errado.A mesma lógica se aplica aos meus relacionamentos afetivos. Depois de vários fracassos retumbantes, decidi ser mais do que mudo. Virei um imenso bloco de concreto que não erra, e também não quebra. O problema é que sempre haverá um Tiiago ao lado, pronto para dar a resposta por você. E ele não terá medo de errar. Vai levantar o braço e berrar para a sala inteira ouvir. Malditos Thiagos. Enquanto eu estiver frustrado e inconsolável, eles estarão equivocados e infinitamente mais felizes.



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