No caminho eu não pensava
em nada, não sentia nada e não conseguia imaginar o que iria acontecer. Estava
completamente fora da realidade, mas não pelos motivos que me levaram lá, mas
sim por não conseguir acreditar exatamente, ainda, no que estava acontecendo.
No banco de trás com minha irmã, o carro guiado por meu avo e
do seu lado sua fiel escudeira e secretária e nossa mãe postiça. Todos em
silencio. Algumas palavras eram ditas, pra amenizar o clima, mas nada que me
fazia sentido.
No fone de ouvido do meu celular tocava Fuckin' Perfect, uma musica da
P!nk, ouvi como se fosse uma trilha sonora daquele momento.
"Segui o
caminho errado uma ou duas vezes, cavei até conseguir sair a sangue e fogo.
Decisões erradas, mas tudo bem...Bem vindo à minha vida idiota.
Mal tratado,
deslocado, mal compreendido, sabichão, tá tudo bem. Mas isso não me parou.
Errado, sempre em dúvida, subestimado, mas olha, ainda estou por aqui".
Erramos o caminho duas
vezes até chegar na chácara, lá eu soube que o processo de reabilitação era em
terapias espirituais baseada na religião evangélica e ocupacionais, ainda não
tinha levado nenhum choque, nem quando entrei no quarto onde dividiria com mais
sete pessoas que parecia mais uma cela de prisão. Todas estavam chocados com as
condições, enquanto eu já esperava tudo aquilo. Não é estranho pensar que as
drogas me levaria dali pra coisa pior, era nítido o alivio do meu avô e a dor
nos olhos da minha irmã que várias vezes me levantou do chão quando caia
inconsciente de tão drogado.
Nos dias que se passaram eu me acostumei com o banho gelado, a comida
simples e o chá de camomila. Brigas entre internos, drogas escondidas, internos
cumprindo pena onde deveriam esta na prisão. muita coisa errada num
caminho certo e eu sem nenhuma expectativa até que um dia recebi a visita dos
meus pais, foi aí que meus olhos se abriram. Nunca mais minha mãe tinha me
abraçado, nunca mais tinha recebido um beijo do meu pai, naquele momento
caiu por terra os meus dramas de abandono e solidão que tinham me levado a
depressão, ao álcool e as drogas. naquele momento eu me senti uma pessoa
privilegiada que apesar de todas as decisões ruins ainda tinha uma família. O
grande problema foi solucionado, as lágrimas da minha mãe e o beijo do meu pai
dizendo ''Eu te amo'' desfez os nós que me apertavam tanto. E já sem a corda no
pescoço, sem as grades na janela e sem o peso das algemas na mão, eu encontrei
a chave da cela, devorei o meu problema e engoli a solução, se todo o mundo pudesse saber como é
fácil viver fora dessa prisão que são as drogas e descobrisse que a
tristeza tem fim e a felicidade pode ser simples como um aperto de mão
Entendeu?
É esse o vício que eu
sugiro que você contraia
Na procura pela cura da
loucura, quem tiver cabeça dura vai morrer na praia.
No dia dos meus 29 anos (30/07), bati o martelo na
clínica de reabilitação e retornei livre e limpo para o convívio social, do
qual passarei a viver uma vida de verdade, jogando no mar do esquecimento tudo
que me levou ao caos. Nunca me envergonharei de ser um reabilitado, adicto
ou qualquer adjetivo vão que me defina, o que importa a partir de hoje é que eu
escolhi viver.