segunda-feira, 13 de março de 2017

o b i t u á r i o


Eu sou a geração do milênio. Geração Y. Nascido entre o surgimento da AIDS e do 11 de Setembro, mais ou menos. Eles nos chamam de geração global, nós somos conhecidos por nossos privilégios e narcisismos, uns dizem que é porque somos a primeira geração onde cada criança ganha um troféu só por comparecer, outros pensam que é porque a mídia social nos permite postar para o mundo todo ver cada vez que comemos um sanduíche. Mas parece que o traço que nos define é ser indiferente ao mundo, uma insensibilidade ao sofrimento. Eu sei que fiz o que pude ... Sexo, drogas, álcool para acabar com a dor, para me livrar dos meus pais e das pessoas idiotas, da pressão e todos os garotos que eu já amei e que não corresponderam. Eu fui agredido por um grupo de pessoas, por um tio e dois dias depois, fui a aula como se nada tivesse acontecido. Isso deve doer muito. A maioria não supera, eu só estava agindo naturalmente. Até que um dia eu morri, e se houvesse um obituário, ele contaria a vida incrível de um garoto incrível que provavelmente não iria deixar descendentes. Mas, não houve obituário. Eu daria tudo que eu tenho e o que vou ter para sentir dor novamente.  Mas esse é o problema de tudo, Eu não consigo mais sentir. Achamos que a dor é a pior sensação, mas nada é pior do que o silencio eterno dentro de nós. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

H e r m é t i c o

Depois da inocência pisada, do desespero anônimo. O que sobra é sempre o ar perdido e sem rumo de quem procura desculpa, na culpa que o mundo, por gratuidade jogou a mim. São tantos os conselhos pretensiosos, as humilhações disfarçadas e os olhares que julgam que eu aprendi a caminhar no vazio. Sem medo, absolutamente sem medo. Aquele destemor de quem não tem nada mais a perder. Meu corpo, pelo contrario do que desejei não se enrijeceu pelos duros golpes da vida, só parou de gesticular. Meu olhar que tanto desejei seco, ainda transborda um marejo de águas profundas, parecem sempre tristes - reflexo. Minha voz se tornou rouca, tórrida e triste - como um Coração partido marinado em vodka e fumaça de cigarro. 
Não há sorriso na escuridão. 
Eu sou hermético.