quarta-feira, 4 de maio de 2016

PURO

Eu corri da minha casa que não conseguiu me conter, da vida que não consegui manter, da minha mãe que me assombra, embora ainda esteja viva. Da minha consciência  que nunca dorme. Eu corri do barulho e do silêncio, do trafego das ruas. Eu corri para o topo da árvore, para o céu, para fora do lago, para dentro da chuva que embaraçou meus cabelos, molhou meus pés e minha pele. Escondeu minhas lágrimas, escondeu meus medos (...) Eu corri e corri, eu estava procurando por mim. 
E eu vi os túmulos caídos, todos os nomes esquecidos. Eu provei a chuva, eu provei minhas lágrimas, eu amaldiçoei os anjos, eu provei meus medos. E o chão se abriu debaixo dos meus pés. E a terra me pegou no colo. O céu negro se abriu, me cegando.
Eu corri e corri, eu estava procurando por mim...
Eu corri e corri. Ainda estou correndo.