quinta-feira, 29 de maio de 2014

Sangue na Pista de Dança


Ninguém esteve lá pra ouvir as coisas que ele tinha a dizer, além do mais, quem escuta algo hoje em dia a não ser seu sua própria vós egoísta, com fome de fama e dinheiro (?). Estive sangrando por tanto tempo a toa, tanto culhão e destruição pra nada. A gente se arrisca tanto pra mostrar para os outros que merecemos o seu afeto e tudo isso é ignorado.

Ah, essas pessoas, tão vazias de si mesmas, o que elas procuram ?
Tantos meios pra disfarçar o desnível e o abismo que há em seus corações. 



Ninguém esteve aqui pra ouvir as coisas que eu tinha a dizer, além do mais, todo esse sangue jogado fora, que não valeu de nada, ainda preso na garganta, derrama em litros pelo chão. Cada víscera dilacerada, cada veia estourada, desejando em estado mórbido um pouco de paixão. 
...Mas não é o fim, ainda há cabeças a rolar e muito sangue a jorrar .

À mesa

Admitir esse supra-sumo de canalhice, de sofreguidão, só me faz ficar mais impaciente pra te comer com aquela mastigada. Uma matança que não acaba mais e Deus me defenda que essa carnificina acabe. 

Rebeca



Cedo à sofreguidão do estômago. É a hora
De comer. Coisa hedionda! Corro. E agora,
Antegozando a ensanguentada presa,
Rodeado pelas moscas repugnantes,
Para comer meus próprios semelhantes
Eis-me sentado à mesa!
Como porções de carne morta... Ai! Como
Os que, como eu, têm carne, com este assomo
Que a espécie humana em comer carne tem!...
Como! E pois que a Razão me não reprime,
Possa a terra vingar-se do meu crime
Comendo-me também.


Augusto dos Anjos

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Acreditar não dói, viu ?

Ele me falou que foi obrigado a viver essas obrigações que a vida impôs. E não pediu nem obrigado pelas oportunidades. Enquanto tem gente aqui do lado, mendigando atenção. O mundo é de quem sabe olhar com os olhos dos outros e aceitar com o seu coração. Cada gesto não é só um gesto. Um gesto é a esperança de uma vida. E eu espero que isso um dia aconteça pra ele também. 
Dessas coisas de ser otimistas, eu lá bem entendo. E não dói, viu? Acreditar não dói. O que dói mesmo é ver a vida em preto e branco porque as cores podem te cegar. Chega de não correr riscos. Quem não corre, continua no mesmo lugar. O meu lugar não é um lugar.

Eu, a partir de hoje, escolhi não ser igual a ele. Perdi o fôlego, mas não deixei ainda de correr.

Ciranda de Vidro


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Corpo em Evidência

'' Você é o seu sexo. Todo o seu corpo é um órgão sexual, com exceção talvez das clavículas.'' 

Na noite em que conheci uma casa de swing, foi a noite em que me conheci também. Um submundo de sexo, perversão e fantasias sexuais que eu nunca tive. Não foi um adeus a inocência, longe disso, já fui corrompido a tempos, mas foi só o saber que aquele lugar não pertencia a mim, me fez ver o sexo de uma outra forma. 
Eu caminhava pelos corredores e via dezenas de pessoas fazendo sexo descompromissadamente num bacanal de dar inveja qualquer Caligola, e eu, perdido no meio daquele lixo, vagando em meios as luzes de neom, surdo pelos suspiros e gemidos das pessoas que compartilhavam sua libertinagem uns com os outros(...)
Pra mim o sexo sempre foi um acidente: o que dele recebemos é momentâneo e casual; visamos algo mais secreto e misterioso do qual o sexo é apenas um sinal, um símbolo.
No final daquela noite, a única certeza que encontrei foi que Sexo é uma grande virtude consoladora, e nada adoça mais as minhas aflições vindas dos meus problemas do que sentir que uma pessoa amável se interessa por ele. Somente com amor. 

terça-feira, 6 de maio de 2014

Dilacerado


Eu também tive meu coração machucado. Dilacerado, imagino. Normal. Desse mal, meu bem, ninguém escapa. Mas o bom disso tudo é que agora consigo abrir meu coração sem rodeios. Sim, amei sem limites. Dei meu coração de bandeja. Sim, sonhei com casinhas, jardins e filhos lindos correndo atrás de mim. Mas tudo está bem agora, eu digo: agora. Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e feliz. Descobri tantas coisas. Tantas, Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri, ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama!

Fernanda Mello

Nunca Livre

Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. 
Eu me tornei intolerável para mim mesmo. Vivo numa dualidade dilacerante. 

Eu tenho uma aparente liberdade mas estou preso dentro de mim. Eu queria uma liberdade olímpica. Mas essa liberdade só é concedida aos seres imateriais. Enquanto eu tiver corpo ele me submeterá às suas exigências. Vejo a liberdade como uma forma de beleza e essa beleza me falta.