Eu precisava comprar um carro, insiste a mídia. Mas prefiro uma nave, uma bolha para escapar flutuando do planeta, na companhia de uma tripulação restrita e escolhida a dedo. Eu precisava ganhar uns dez quilos. Muitos precisavam perder vinte quilos. Nesse perde e ganha de banhas e aparências, são raros os que se tocam que o peso de viver nesse mundo-de-nem-deus jamais será mensurado em gramas. Não arrear com tamanha carga emocional: eis um desafio para burros e espertos. Eu precisava subir na vida. No duro: na maior parte do tempo, eu penso em pegar descendo, sumir do mapa, tornar-me um eremita e fazer visitas esporádicas ao shopping-center durante aqueles surtos de solidão incontrolável, se é que me entendem. Pode parecer paradoxal, mas, às vezes, é mais seguro topar com gente do que com os fantasmas da mente.
Tá nos folders e nas revistas: eu precisava viajar pelo mundo. Mas confesso que sou viciado em viajar na maionese. O duro é que meus pensamentos quase sempre me conduzem até onde o vento faz a curva, a ponto de muitos julgarem que eu perdi o juízo lá onde Judas perdeu as botas, e que estou me tornando uma companhia bastante desagradável.
Na verdade, eu preciso de quase nada nesse mundo. Porque, quanto mais eu envelheço, mais sinto fome de mim.
EBERTH VÊNCIO
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