quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Vintage


Dia desses eu estava conversando com uns amigos sobre a última vez em que qualquer um de nós tinha visto uma fotografia impressa. Ninguém se lembrava ao certo, mas a conclusão foi unânime: fazia muito tempo.
Para mim, as fotos digitais são como os relacionamentos afetivos de hoje em dia. Prezam pela quantidade. Uma coleção enorme de momentos quase sempre bastante superficiais e transitórios.
Já não impõe mais respeito, nenhum dos dois. Você tira quantas fotos quiser, não precisa mais se preocupar com o limite. E, por isso mesmo, não é comum ver alguém pensando muito antes de sair por aí clicando. Ou ficando com pessoas.
Com tanta liberdade, em ambas as experiências, acaba sendo difícil a tarefa de selecionar os bons resultados - que, vão me desculpar, são raríssimos.
Na minha opinião, a única forma da fotografia realmente existir é quando está gravada na superfície de um papel. Antes disso ela é só um arquivo dentro de uma pasta no drive C. Não é de verdade. Não rasga, não amassa, não mancha. Não fica marcada pelo plástico do álbum, pelo vidro do porta-retrato, pelo calor, pela umidade. Não é nada além de uma porção de dígitos armazenados em uma máquina.
Quero fotos dos anos setenta. Quero lembranças de uma época em que cada foto importava. E que as pessoas nas fotos importavam mais ainda.
Quero fotos daquelas bem avermelhadas, desbotadas, gastas. Fotos de viagens incríveis. Fotos de estrada. Fotos que só têm graça para quem esteve lá. Quero olhar para elas daqui a trinta, quarenta anos e lembrar que naquele momento eu fui feliz. Com alguém.
Não faço mais questão de ter centenas de fotos aleatórias espalhadas pela pasta "Minhas Imagens". Quero as que durem, mesmo que apagadas pelo tempo. Prefiro essas aos arquivos esquecidos no HD do computador.
Quero fotos que tenham significado. Fotos de valor inestimável, a prova de vírus e cavalos de tróia. Fotos que, infelizmente, já não fazem parte da cultura da minha geração.
Mas eu pouco me importo. Não quero saber da insustentável leveza dos arquivos e das experiências zipadas. Gosto mesmo é de um bom vintage.

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