Uma criança de quatro anos é fofinha. Comove, alegra, emociona, e tudo isso apenas existindo. Ela não precisa fazer nada para gostarem dela. Pessoas adultas não são assim. Todas as pessoas humanas* já foram crianças, mas muito poucas delas conservaram a fofura. Quem é adulto, precisa fazer um esforço intenso para ser gostável e ser considerada fofinha ao menos para algumas pessoas. Eu fui fofinho. Tenho uma daquelas fotos clássicas em que estou dormindo sobre uma bela colcha, usando um tip-top lindo. Daquelas fotos que você olha e diz “aaahhhhh”. Hoje, porém, muita gente que me olha diz “que mané mais antipático!”. Não tenho dúvidas: perdi a fofura. Agora tento reencontrá-la nos outros. Já imaginou conseguir olhar para aquele babaca mais antipático que você conhece e imaginá-lo como uma criança? Imaginar que toda a sua fragilidade e doçura foi talhada de tal forma que ele acabou tornando-se um limão? Difícil. Não conseguimos perceber muito mais do que a curta fronteira de nossa embaçada e fantasiosa visão alcança. Julgamos, condenamos e aplicamos uma severa pena de reclusão de nossas vidas, relegando dezenas de pessoas interessantes à nossa tão sublime e perfeita existência. Sim, nós nos consideramos defeiuosos, e a maioria tem dificuldades em encontrar qualidades em si mesmos. Mas quando se trata de julgar o outro, aí sim podemos ser melhores, pois teremos menos defeitos. Será? Estou tentando descobrir a criança que há nos outros. E assim, quem sabe, eu encontre a minha criança particular; se é que não é ela que está escrevendo este texto agora...
* Pessoas humanas? Fala sério...
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