Diferente de ter que estar vivo para sentir é ter que sentir para se manter vivo. Esse é meu mal, o que me perturba, ser só sentir. É o que torna o mundo tão insuportavelmente vivo para mim. Mas é também a única coisa que eu verdadeiramente tenho e que me acompanha todos os dias, que domina tudo que eu olho, ouço, penso, que altera toda e qualquer simples percepção. Todos os dias, sempre que eu inspiro, expiro, pulso, expulso. Impulso. Hoje, primeiro foi aquele senhor de olhos doloridamente azuis, grandes, com aquelas vestes tão familiares, depois foi aquela senhora tão linda, com ar seguro de seus setenta anos, dedos cheios de anéis e as unhas impecavelmente pintadas de vermelho, naquele tom que eu já conhecia, mas nunca mais tinha visto igual. Saudade é como vício, alguns lugares e situações atraem o sentimento. Diferente dele, eu não tenho lugar nem situação para me manifestar em essência, para amar o que eu já perdi, para chorar pelo que eu amo, para manter vivo o que eu não mato em mim.
Só.
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