Por um instante quis
sentir falta de alguém, mas não consegui me lembrar de ninguém. Por outro
instante quis inventar uma pessoa, mas eu sou tão de verdade nesse momento que
me faltou capacidade para ser enganado. Na cidade mais difícil do mundo amei
meu medo, meu quarto, minha cama, meu banheiro, minha coragem, minhas próximas
horas pelo resto da vida, minha quase morte que agora me enchia de novidades,
meu silêncio, a extensão do meu pânico curioso que iluminava toda a cidade com
as luzes de natal, minha tranquilidade madura, toda a bagunça da minha
cabeça.
Sim, o garotinho magrinho, branquelinho,
assustado, sensível, cheio de ódios, cheio de erros e cheio de si, agora apenas
recomeçava no corpo de um homem invisível.
Amo que o mundo esteja em festa, afinal, é Natal ! E eu tenho convites , mas ninguém atende o
telefone, ninguém nunca apareceu ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário